Muito antes de fundar a Multiplicando Sonhos, instituição sem fins lucrativos que oferece aulas gratuitas de educação financeira para estudantes do ensino médio de escolas públicas, o paulistano Evandro Mello já sabia que educação financeira pode transformar vidas. A dele mudou quando percebeu, ainda jovem, que notícias econômicas que passavam na TV deixavam o pai e o avô irritados. Isso despertou sua curiosidade para o tema e, desde então, ele nunca mais deixou de pensar em finanças.
Criou a Multiplicando Sonhos, para levar aos jovens a mesma curiosidade e respostas que procurava. E, sobretudo, porque acredita que a educação financeira apresenta ao jovem algo que muitos nem sequer imaginam ter: a oportunidade de realizar seus sonhos. Para ele, que planeja levar a Multiplicando sonhos para todas as capitais do Brasil até 2030, desenvolver a consciência financeira dos jovens é também investir no futuro do país. Mello conversou com a estudante Sofia Z., de 16 anos, aluna do 2o ano do ensino médio. Confira trechos da entrevista.
Qual foi seu primeiro contato com educação financeira?
Eu era adolescente. Notava que, assistindo ao jornal na TV, meu pai e meu avô ficavam um pouco irritados quando ouviam notícias de economia. Isso gerou curiosidade em mim, e passei a fazer perguntas. Meu pai explicava de modo simples coisas como inflação, e aí foi gerando esse interesse. Comecei a estudar por conta própria e, no ensino médio, já tinha escolhido o que cursar, já sabia que seria algo relacionado a economia, administração ou comércio exterior. Queria muito juntar isso tudo para entender a tal economia, fosse ela macro, micro ou do lar. Meu primeiro emprego, como jovem aprendiz, foi na área de finanças e contabilidade de uma transportadora.
O objetivo da Multiplicando Sonhos é chegar a todas as capitais do Brasil em 2030. Como?
A Multiplicando Sonhos é signatária da Rede Brasil, do Pacto Global da ONU, que tem como principal objetivo trabalhar para construir um país mais igualitário e sustentável para as próximas gerações. Desde o ano passado, trabalhamos oito ODS dentro da nossa estratégia de crescimento.
Qual a relação dos ODS com a educação financeira e o desenvolvimento dos jovens?
Um dos ODS é levar educação de qualidade para crianças e jovens e, assim, diminuir as desigualdades. Ao oferecer educação financeira aos jovens, ajudamos a reduzir essa desigualdade, porque eles passam a ter acesso a um conhecimento que traz a possibilidade de realizar seus sonhos. Proporcionar isso aos jovens é investir no futuro do país, pois as novas gerações entenderão economicamente os próprios recursos, vão saber como poupar e investir, e compreenderão a importância dos impostos.
Por que os jovens precisam desse conhecimento de educação financeira?
Os jovens, como qualquer ser humano, são imediatistas, têm dificuldade de enxergar que podem ter mais recursos no futuro. A educação financeira apresenta essa possibilidade, eles passam a entender que podem planejar um intercâmbio, uma faculdade, uma casa… Depois, ensina como alcançar essas metas, dá instrumentos para que possam chegar lá. Nosso objetivo não é que todos os jovens alcancem a mesma coisa, e sim dar oportunidades iguais na largada. É preciso ter consciência de que recurso financeiro não é um fim, é um meio — e que o comportamento influencia a maneira como a gente utiliza o nosso dinheiro.
Como a educação financeira se relaciona com o dia a dia dos alunos?
Há muitos jovens empreendedores nas escolas que atendemos. Eles vendem pão de queijo, bolo de pote e cones recheados. Então, além de educação financeira, a gente leva educação empreendedora, que envolve calcular custos e receitas, por exemplo, ou separar as finanças do negócio das pessoais. Toda aula tem perguntas que eles precisam responder, para que percebam na prática como aquilo vai fazer parte da vida deles. Também levamos para a sala de aula a economia circular, ou seja, a importância de reaproveitar recursos. Educação financeira e sustentabilidade estão altamente atrelados.
Você costuma dizer que educação financeira sozinha não resolve. O que mais é necessário?
Políticas públicas. A educação financeira precisa vir acompanhada de uma educação básica de qualidade, de educação empreendedora e cidadã. O Estado, a iniciativa privada e as organizações civis precisam trabalhar juntos, gerando renda, emprego e moradia.
Qual é o seu próximo sonho?
Meu sonho profissional é discursar na ONU. Não um discurso de palavras, e sim de ações. Para demonstrar que, quando a gente reúne pessoas boas, consegue realizar um objetivo. Meu sonho pessoal é ser pai! Amo crianças, elas me fazem ter certeza de que tem gente boa no mundo.