Salário mínimo x cesta básica

Por Gilberto Gil Passos, fundador da Olimpíada Brasileira de Investimentos
2 de outubro de 2024 em Colunistas, Opinião Jovem, Público

Prezados leitores,

Já refletiram sobre como a relação entre o salário mínimo e o preço da cesta básica forma um poderoso indicativo do poder de compra do brasileiro? Estas são duas medidas populares essenciais para avaliar a capacidade dos trabalhadores de suprir suas necessidades mais básicas e, consequentemente, avaliar o nível de bem-estar social. Na coluna de hoje, vamos analisar a relação histórica entre essas ações para entender como essa interação evoluiu ao longo das últimas décadas.

Diversas variáveis influenciam as oscilações diárias do preço de alimentos, como as oscilações do dólar e as flutuações da inflação. Esses fatores são cruciais para entender a realidade econômica que enfrentamos, pois qualquer mudança impacta diretamente a população, afetando o poder de compra e o custo de vida.

Mas o que é poder de compra? Falando matematicamente, é um termo que expressa quanto pode ser comprado com determinada quantidade de dinheiro.

Apresento hoje um gráfico que elaborei utilizando dados fornecidos pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) que vocês podem conferir no site.  Neste gráfico, cada ponto revela quantas cestas básicas podem ser adquiridas com o valor de um salário mínimo. Podemos notar a evolução ou não do poder de compra do brasileiro ao longo dos últimos 20 anos.

Em um país como o Brasil, cuja economia é uma potência na exportação de commodities, a valorização do dólar pode gerar impacto direto na inflação dos preços. Isso acontece porque, com o dólar mais alto, os produtores são atraídos pela maior lucratividade das vendas externas, priorizando o mercado internacional em detrimento do mercado doméstico. Como resultado, a oferta interna de produtos diminui, elevando os preços, o que a população sente diretamente, especialmente ao ir ao mercado. Essas oscilações são percebidas ao analisarmos o preço da cesta básica ao longo dos anos. Vale lembrar também que o salário mínimo foi criado com o objetivo de garantir ao trabalhador condições para arcar com uma alimentação básica e outros custos essenciais, como moradia, assegurando sua sobrevivência e dignidade.

Se, em algum momento, a inflação dos alimentos e a valorização do dólar continuarem a subir, o poder de compra do trabalhador será severamente prejudicado, reduzindo sua capacidade de adquirir os bens mais essenciais. Quando essa relação se mantém elevada, isso indica que a população tem maior poder de compra e, consequentemente, melhores condições para atender às suas necessidades básicas, refletindo em uma vida mais confortável para o trabalhador. No gráfico, podemos tomar como referência o salário mínimo comprando duas cestas básicas. Ao longo do período analisado, em 59% do tempo, o poder de compra permaneceu acima dessa marca, e em 41% do tempo, ficou abaixo. Atualmente, estamos vivendo com um poder de compra de 1,86 cesta básica, ainda em recuperação da queda abrupta ocasionada pela pandemia de covid-19.

Podemos destacar que a educação financeira nos permite enxergar essa análise do poder de compra do salário mínimo em relação à cesta básica como uma ferramenta essencial para identificar, compreender e agir de forma eficaz, tanto em momentos de crise como de bonança. Em tempos de bonança, quando o poder de compra está em alta, pode ser o momento ideal para considerar investimentos mais arriscados e diversificar a carteira, aproveitando a expectativa positiva. Por outro lado, em momentos de crise, quando o poder de compra é corroído pela inflação, é crucial evitar o endividamento, adotar estratégias de contenção de gastos e avaliar cuidadosamente as condições de crédito antes de fazer qualquer empréstimo.

Espero que vocês tenham curtido o texto de hoje e que ele tenha trazido reflexões valiosas sobre a importância de entender o poder de compra e a educação financeira para tomar decisões mais conscientes. Lembrem-se da frase de Benjamin Franklin: “Um investimento em conhecimento rende os melhores juros”. Que possamos, então, investir no aprendizado contínuo para tomar decisões cada vez mais sábias em nossa vida financeira.

Até a próxima, pessoal!