O Brasil gera quase 80 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos (RSU) por ano. Somente no ano de 2022, mais de 33 milhões de toneladas – o que representa 40% de todo o lixo gerado no país tiveram destinação inadequada, sendo despejadas em lixões a céu aberto, valas, terrenos baldios e córregos urbanos.
Esse número, apurado pela Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema), mostra o tamanho do desafio que o país tem que enfrentar. Estima-se que o impacto de todas essas falhas na gestão de resíduos foi da ordem de 97 bilhões de reais, em 2020. E se nada no atual modelo mudar, em 2050, esses custos indiretos da crise do lixo podem chegar a 135,9 bilhões, segundo estudo encomendado pela Folha de S.Paulo.
O levantamento “Panorama do Resíduos Sólidos”, realizado pela Abrema, mostra que há mais de 3 mil lixões a céu aberto espalhados em todos os estados brasileiros. Lixões são locais nos arredores das cidades onde o lixo é despejado indiscriminadamente, sem nenhum tipo de cuidado.
“Muitas pessoas pensam que o problema do lixo se resolve assim que o caminhão da coleta passa. Muitos prefeitos se aproveitam disso, mas é um erro que pode cobrar um preço caro da população, que fica sujeita às doenças que o lixo mal gerido pode causar”, diz Pedro Maranhão, presidente da Abrema, em entrevista do TINO Econômico.
Os riscos de não cuidar do lixo
O manejo incorreto de resíduos sólidos gera o que o “Global Waste Management Outlook 2024“, da Organização das Nações Unidas (ONU), chama de tripla crise planetária, por influenciar três principais problemas:
Mudança climática – o transporte e descarte de resíduos gera CO2 e outros gases de efeito estufa, especialmente o metano, que contribuem para o aquecimento global.
Diminuição da biodiversidade – o descarte incorreto pode contaminar o solo com substâncias químicas perigosas, causando danos à flora e fauna.
Danos à saúde – entre 400 mil e um milhão de pessoas morrem todos os anos devido a doenças relacionadas ao manejo inadequado de resíduos.
Tem solução?
Entre as principais barreiras para uma gestão eficiente dos resíduos sólidos estão as limitações orçamentárias e a resistência política. Pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, terminou no dia 2 de agosto o prazo para que todos os municípios brasileiros acabassem com os lixões. As prefeituras alegam falta de recursos para a instalação de aterros sanitários e pedem uma prorrogação no prazo por mais cinco anos para se adequarem às regras.
Uma solução para o problema foi proposta pelo Novo Marco Legal do Saneamento Básico, aprovado em 2020. Ele estipula a cobrança de uma tarifa de quem gera resíduos para cobrir o custeio dos serviços de manejo. Ou seja, quem gera o lixo seria responsável pelo custo da gestão ambientalmente adequada.
A medida enfrenta forte resistência de parte das Prefeituras, por ser uma medida considerada impopular. Mas especialistas defendem a cobrança. “Esse serviço deve ser comparado a outros serviços pelos quais pagamos, como tratamento de água e esgoto, luz, gás e telefonia. Com o pagamento pelo serviço, a gestão de resíduos não demandaria das prefeituras o remanejamento de verbas de outras áreas, como educação e saúde”, diz Maranhão.
O que são aterros sanitários O aterro sanitário é uma complexa obra de engenharia planejada para minimizar ao máximo o impacto ambiental que o lixo descartado pode causar. Nele, há uma tecnologia apropriada para garantir a impermeabilização absoluta do solo, impedindo a circulação subterrânea do chorume, um líquido tóxico para o solo, rios e lençóis freáticos. Também possui dutos de captação do metano, gás gerado a partir da decomposição dos resíduos orgânicos. Ele é até 28 vezes mais poluente que o gás carbônico, mas pode ser usado como insumos para produção de biocombustíveis e geração de eletricidade. “Os aterros sanitários proporcionam um duplo ganho socioambiental, pois retiram do meio ambiente o que é danoso para a saúde humana e transformam em ativos energéticos e econômicos”, diz Pedro Maranhão, presidente da Abrema. |
Quanto menos lixo, melhor!
Dicas de como todos nós podemos ajudar a solucionar essa crise:
1. Reduzir o consumo: compre apenas o necessário e prefira produtos com menos embalagens. Evite produtos descartáveis e opte por itens reutilizáveis.
2. Reutilize: antes de descartar algo, pense em como ele pode ser reutilizado. Potes de vidro, sacolas de tecido e outros itens podem ter uma segunda vida.
3. Recicle: separe o lixo reciclável (papel, vidro, plástico, metais) e destine-o corretamente para a reciclagem.
4. Composte: resíduos orgânicos, como restos de alimentos e cascas de frutas, podem ser compostados em casa ou em locais específicos, reduzindo a quantidade de lixo enviada para aterros.
5. Escolha produtos duráveis: invista em produtos de alta qualidade e que durem mais tempo.
6. Evite produtos de uso único: substitua itens como garrafas plásticas, canudos e talheres descartáveis por versões reutilizáveis.
7. Leve sua própria sacola: sempre leve as próprias sacolas reutilizáveis ao fazer compras para evitar o uso de sacolas plásticas.
8. Doe ou venda itens usados: em vez de jogar fora roupas, móveis ou eletrônicos que você não usa mais, doe-os ou venda para quem pode aproveitá-los.
Fontes: Folha de S.Paulo, Senado Federal, Abrema e ONU.