À frente do Instituto Proa, que busca capacitar e inserir jovens de baixa renda no mercado de trabalho, Alini Dal’Magro tem muito a ensinar com a própria experiência.
Nascida em Videira, município com pouco mais de 55 mil habitantes, no interior de Santa Catarina, ela morava com a família na zona rural. Estudou numa escola multisseriada, na qual uma única professora ensinava alunos do 1º ao 5º ano ao mesmo tempo. Quando chegou a hora de ir para a faculdade, ela percebeu que não tinha todo o conhecimento necessário para passar no vestibular.
Ciente das diferenças, ela entendeu que precisaria “correr mais do que todo mundo” para garantir seu lugar. E assim foi: Alini conseguiu uma vaga na Universidade Federal de Santa Catarina, estudou em outros países e se tornou chief executive officer (CEO), termo em inglês para presidente, aos 31 anos.
Seu objetivo hoje é ajudar o maior número possível de jovens de baixa renda a também conquistar a carreira dos sonhos. Nesta entrevista para o TINO Econômico, Alini conversou com Jemima Gama, aluna do 3º ano do curso de administração de empresas da Etec Lauro Gomes, em São Bernardo do Campo (SP).
Qual é o maior desafio para o jovem conquistar o primeiro emprego?
É ele saber o que quer. É ter autoconhecimento, se conhecer de verdade, fazendo reflexões. Quem eu quero ser? Por que eu quero ser? Em quem eu me espelho? No que eu sou bom? Porque depois é processo. Quem decidir que quer trabalhar num banco, por exemplo, pode fazer uma lista de todos os bancos, preparar-se e se candidatar a vagas nessas empresas. É como no mundo dos esportes — se alguém quer correr uma maratona, vai treinar e criar uma rotina para chegar lá.
Qual o primeiro passo que ele deve dar?
Antes de buscar um emprego, o jovem deve pensar sobre si, desenvolver o autoconhecimento, saber quais são seus superpoderes e carreiras de que gosta. É importante que ele não se limite a seguir os passos dos pais ou ir só até onde eles foram, que considere que não existe limite e descubra qual o sonho dele. A partir disso, o jovem deve olhar para as oportunidades de carreiras e não ter medo de errar. No decorrer da vida, desenvolvemos novas carreiras, então a primeira provavelmente não será a última. Ou seja, a decisão inicial sobre o que você vai fazer não é uma decisão para o resto da vida.
Alguma dica para orientar essa decisão?
Na minha opinião, essa decisão precisa ser racional. Gostar de cachorro e gato não significa ter dom para ser veterinário. Uma coisa é amar o bicho, outra é trabalhar a vida toda como veterinário. Por um tempo, eu pensei em ser jornalista. Eu gostava de comunicar, queria ser como a Fátima Bernardes, que apresentava o Jornal Nacional. Ao pesquisar, entendi que existiam muitas outras nuances no jornalismo e acabei optando por administração de empresas.
Como funcionam os cursos do Instituto Proa?
O Proa trabalha com jovens entre 17 e 22 anos, da escola pública. A gente acredita que, a partir do momento que a pessoa consegue um bom primeiro emprego, ela vai ser protagonista da própria vida e poder construir uma carreira de sucesso.
Temos um curso voltado para a área de tecnologia, para o qual o jovem faz um processo seletivo e, se aprovado, ganha computador, uniforme, vale-transporte, bolsa de estudos. Quando ele termina o curso, o Proa tem seis meses para encontrar uma vaga de emprego para ele na área de tecnologia. Nosso índice de empregabilidade hoje é de 85%. Atendemos 300 jovens nesse curso. Só que no Brasil, atualmente, existem 12 milhões — e apenas 2 milhões de vagas para essa faixa etária. Para conseguir impactar mais pessoas, temos a Plataforma Proa, que é o nosso projeto on-line com tutoria. Hoje temos 35 mil alunos, em 12 estados. O objetivo é chegar a 300 mil até 2027.
Quando fiz minha primeira entrevista de emprego, fiquei muito insegura por não saber o que os recrutadores esperavam de mim. O que eles realmente esperam de um jovem?
Primeiro, o recrutador sabe que o jovem não tem experiência, porque é uma vaga para começo de carreira. Ele basicamente quer alguém que queira aprender, que tenha as habilidades básicas de sobrevivência, como força de vontade, curiosidade e disposição para contribuir.
Como o jovem deve se comportar numa entrevista de emprego?
Ele precisa se mostrar interessado. Pesquisar na internet o máximo que puder sobre a empresa e, durante a conversa, contar sobre o que pesquisou. O recrutador vai entender que essa pessoa, no mínimo, gastou um tempo para se preparar. Também é importante chegar no horário, vestir-se adequadamente e mostrar comprometimento. Se o jovem confirmou a entrevista, deve comparecer. E valorizar também suas realizações ao longo da vida. Se ele ou ela cuida da família, enquanto a mãe e o pai trabalham, isso mostra que é responsável.
Você acha que as redes sociais atrapalham ou ajudam na habilidade de se comunicar?
As redes sociais estão aí e pronto. Isso está dado. Tanto faz você gostar ou não. O que o jovem precisa entender é que existem formas diferentes de se comunicar. Na empresa ele precisa ter uma linguagem mais corporativa.
O jovem cria muita expectativa, talvez por ver nas mídias um influencer bem novo conquistando várias coisas, enquanto ele mesmo mal sabe por onde começar. Isso gera frustração. O que fazer?
O que eu falo muito para os meninos do Proa é: não gaste tempo olhando para o outro, a sua única concorrência durante toda a vida é você mesmo. O jovem precisa se perguntar com honestidade: estou fazendo o meu melhor? Aprendi mais no último ano? É com isso que precisa se ocupar.