“Precisamos falar de dinheiro para ter sonhos.”

Fernanda Mateus, gerente de educação da Anbima, explica a importância da educação financeira para os jovens
5 de novembro de 2024 em Edições Impressas, Entrevista

Com mais de 20 anos de experiência em educação, Fernanda Mateus chegou à Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), em 2023, para mergulhar na educação financeira. Esta é uma das frentes da instituição especializada em qualificação técnica de profissionais do mercado financeiro e certificações para os que desejam atuar nesse setor.

Sophia A., 14 anos

Segundo ela, o que mais a motivou a aceitar o desafio foi a necessidade de saber mais sobre como cuidar do próprio dinheiro. Aos 41 anos, além de tudo que aprende e ensina no trabalho, Fernanda tem a missão de transmitir seus conhecimentos financeiros ao filho de 8 anos. Nesta entrevista exclusiva, ela conversa com Sophia A., de 14 anos, estudante do Colégio Friburgo, sobre a importância da educação financeira na vida dos jovens e os projetos da Anbima voltados a esse tema.

Como você se interessou por educação financeira?

Eu sempre atuei com educação. Como a educação financeira é um tema transversal nas escolas, eu já tinha esbarrado nele, mas nunca me aprofundado. Quando surgiu a oportunidade na Anbima, fiquei muito curiosa, principalmente por ser um assunto que eu também precisava como pessoa. Eu sabia que aprenderia muito. Aqui eu consigo trazer meus conhecimentos e aprender como cuidar melhor do meu dinheiro e levar o assunto para dentro de casa. A possibilidade de troca brilhou os meus olhos.

Por que você acha que a educação financeira é tão fundamental para os jovens?

Ela é importante para todos, mas vale um destaque para os jovens. É na juventude que começamos a sonhar. Nessa fase da vida passamos a compreender as possibilidades do dinheiro e entender o que fazer com ele, como administrá-lo bem para que seja um instrumento para realizar esses sonhos. Eu sempre penso em como levar esse assunto para o meu filho, por exemplo. Nós precisamos falar sobre dinheiro para que tenhamos sonhos.

Você tem alguma dica para os jovens que estão começando a gerenciar as finanças pessoais?

Antes de tudo, é muito importante conhecer o seu dinheiro, o quanto entra e sai. Ter essa compreensão é o primeiro passo para entender quais outros podemos dar. Podemos sonhar? Sim! O que precisamos para alcançar esse sonho? Qual o meu contexto neste momento? Se eu tenho dívidas, preciso seguir por um caminho. Se quero construir uma reserva de emergência, por outro. E, se quero começar a investir, é outro ainda. Precisamos primeiro entender nossa realidade. Depois disso, procurar informação em fontes confiáveis, buscar conhecimento para compreender onde colocar o nosso dinheiro. Atualmente, golpes e promessas financeiras irreais se tornaram comuns, é preciso ter cuidado.

Em outubro, a Anbima lançou um programa de educação financeira para jovens. O que é esse projeto?

O nosso Programa de Voluntariado nasceu com a missão de conectar voluntários do mercado de capitais a jovens de 15 a 21 anos de organizações sociais por meio da educação financeira. Para isso, realizamos o evento de lançamento e criamos o Finanças em Jogo, um jogo de tabuleiro baseado na nossa metodologia. Ao longo da dinâmica, o jogo nos leva a três ensinamentos importantes: sobre a conscientização, a criticidade e a autonomia. Assim, o jovem tomará suas decisões de forma consciente e crítica. Durante o evento, também colocamos esses jovens em contato com nossos parceiros do mercado, criamos relações, conversas e momentos de mentoria e planejamento financeiro individual.

Você poderia contar algum retorno que recebeu desses jovens?

Dias depois do programa, nós recebemos vídeos de agradecimento mandados por eles. Ali eles contam que não sabiam que podiam sonhar. No dia do evento, tivemos uma oficina sobre sonhos, e eles aprenderam que é possível e potente sonhar. Outra fala foi sobre tomar mais cuidado com o próprio dinheiro, que chegou em casa e já influenciou o entorno, conversou com a mãe e passou a apagar as luzes ao sair dos cômodos. E outras declarações ainda explicam que os jovens entenderam que educação financeira é para todos, independentemente do tamanho da conta bancária.

Quais serão os próximos passos relacionados à educação financeira?

Queremos disseminá-la pelo Brasil. Nosso objetivo é ter muitas outras edições do Programa de Voluntariado. Um bom projeto educacional é aquele de que perdemos o controle, de tão grande que ficou. É isso que queremos. Além dele, temos o Como Investir em Você, uma jornada de conhecimento de educação financeira em três frentes: sair das dívidas, formar uma reserva e começar a investir. O projeto fez dez anos, e nós o revisitamos para aperfeiçoar as trilhas de aprendizado e expandir para outras instituições de ensino, além das universidades que o usam atualmente. Desejamos desenvolver ainda mais esses programas para o ano que vem, para 2026, 2027… A ideia é levar a educação financeira a perder de vista.

 Menina com celular. Foto criada por diana.grytsku - br.freepik.com

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