No dia 3 de abril, um terremoto de magnitude 7,4 deixou 13 mortos e 1.145 feridos (até o fechamento desta edição) em Taiwan. Prédios, estradas e casas foram destruídos. Foi o maior tremor na região em 25 anos, e o estrago só não foi maior porque as construções do território têm mecanismos de proteção contra abalos sísmicos.
Além das vidas perdidas e do apoio às famílias afetadas, o tremor trouxe outra preocupação: qual seria o impacto do terremoto para a economia global. Isso porque Taiwan concentra a maior parte da produção de chips do mundo, o equivalente a 90% do mercado global.
Para fabricar esses componentes de tecnologia são necessárias operações ininterruptas, em virtude do alto gasto de energia. A parada de algumas empresas ocasionada pelo tremor pode significar produtos danificados e desabastecimento do mercado.
A Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC), líder mundial de fabricação de semicondutores, comunicou que o terremoto havia danificado algumas máquinas, mas a maioria já havia voltado ao normal. Outra fabricante, a United Microelectronics Corporation declarou que não sofreu grande impacto. “Algumas linhas de produção foram afetadas. O envio de wafers [placas de semicondutores feitas de silício e usadas como base para a criação de chips processadores] está sendo retomado.”
Por que os chips importam?
Em um mundo totalmente digitalizado como o nosso, os chips de computadores se tornaram onipresentes desde em sistemas militares até bens de consumo. Isso sem falar na inteligência artificial. Se a produção parar, outras indústrias também suspendem a fabricação, como a automobilística, de eletrônicos e até de eletrodomésticos, por falta de matéria-prima.
A dependência do mundo por chips pôde ser comprovada na pandemia, em 2020, quando muitas fábricas do componente, especialmente na Ásia, paralisaram a produção. Isso diminuiu a oferta ao mesmo tempo que a população dependia de mais tecnologia para trabalhar e estudar em casa.
Guerra dos chips
As duas maiores economias mundiais já perceberam que quem liderar a corrida tecnológica e a produção sairá em vantagem — a ponto de ter a economia mundial sob controle — e partiram para o ataque.
Os primeiros passos foram dados quando o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, proibiu companhias norte-americanas de utilizar equipamentos de telecomunicações da chinesa Huawei. A alegação era de que a China os usava e para espionagem industrial.
O governo seguinte, de Joe Biden, anunciou um pacote de estímulos para tentar nacionalizar totalmente a produção de semicondutores. Outra medida, mais recente, foi a aprovação, em março, de um projeto de lei que pode banir o TikTok do país. A rede social pertence à chinesa ByteDance. Os legisladores estão exigindo que o aplicativo tenha um novo dono nos EUA, senão a empresa terá de deixar o país e lojas como App Store e Google Play deverão retirar o app da prateleira digital.
O troco da China
O contra-ataque chinês veio com o anúncio de um imposto sobre produtos importados dos EUA, incluindo chips, e a injeção de mais de um trilhão de dólares para desenvolver a indústria de semicondutores no país.
Mais recentemente, a nação asiática proibiu o uso de chips da Intel e da AMD, duas das maiores fabricantes dos EUA, e do sistema operacional Windows, da Microsoft, em computadores do governo.
Taiwan, com toda a sua produção de chips, é um parceiro especialmente estratégico para os dois países. Considerado um Estado autônomo, o território asiático mantém relações estreitas com os EUA, mas não é independente da China. E, por ser um celeiro de alta tecnologia, as duas superpotências mundiais vêm fazendo acenos para o governo de Taiwan em busca de aproximação. A intenção é clara: quem conquistar esse parceiro terá à disposição a principal arma para ganhar poder neste mundo digitalizado: a tecnologia dos chips.
Fontes: UMC, G1, Olhar Digital e Brazil Journal.