O furacão Trump

Como as decisões tomadas pelo presidente dos Estados Unidos nos primeiros dias de governo afetam a economia mundial
11 de fevereiro de 2025 em Edições Impressas, Internacional

Não é à toa que o presidente Donald Trump tem praticamente monopolizado o noticiário internacional desde sua posse, no dia 20 de janeiro. Após assumir o cargo, ele vem tomando diversas decisões que afetam não só os Estados Unidos, como também a economia mundial. A cada medida anunciada, Trump aponta o foco para um tema específico. Confira as principais.

Deportação de ilegais

O primeiro alvo foram os imigrantes ilegais. Trump deu autoridade às agências de segurança do Departamento de Justiça para investigar e prender imigrantes não documentados, iniciando uma deportação em massa. Vale lembrar que a política de deportação já valia no governo anterior.

Com a decisão, órgãos de fiscalização entraram em empresas, comércios, escolas e até igrejas em busca de pessoas sem autorização para permanecer nos EUA. Segundo o Serviço de Imigração e Alfândega (ICE, na sigla em inglês), no mês de janeiro, foram realizados 109 voos para levar deportados de volta ao país de origem.

O impacto econômico dessa medida e das deportações anteriores será sentido principalmente em nações da região conhecida como América Latina e Caribe. Segundo levantamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), esses países têm economias muito dependentes da remessa de dinheiro enviada pelos imigrantes às famílias.

Em 2024, os envios totalizaram pelo menos 161 bilhões de dólares (quase um trilhão de reais). No México, a remessa desses valores representa 3,2% do Produto Interno Bruto (PIB). Em Honduras e na Nicarágua, esse percentual ultrapassa um quarto do PIB e, em El Salvador, chega a 23,5%. No Brasil, os valores enviados por pessoas que moram nos EUA representam 0,2% do PIB.

Saída do Acordo de Paris

“Estou me retirando imediatamente do acordo climático de Paris, que é injusto e unilateral”, disse Trump no discurso de posse. “Temos algo que nenhuma nação produtiva tem: o maior volume de petróleo e gás. E vamos usá-lo.”

A saída do Acordo de Paris e o incentivo à exploração de combustíveis fósseis não são surpresa. As medidas foram anunciadas durante a campanha eleitoral e, em seu primeiro mandato (2017-2020), o presidente retirou os EUA do acordo climático mundial. O país retornou ao tratado em 2021, por ordem do sucessor de Trump na presidência, Joe Biden.

O Acordo de Paris foi firmado em 2015, por 196 países. Ele estabelece que as nações signatárias diminuam as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEEs) para limitar, até 2030, o aumento de temperatura em até 1,5°C (grau Celsius) em relação ao período pré-industrial (ou seja, antes de 1850). Os países devem criar metas, acompanhar sua execução e, a cada cinco anos, fazer atualizações do que pretendem cumprir.

Os norte-americanos são historicamente grandes emissores de gases poluentes, ficando atrás apenas da China. A decisão do presidente fortalece a indústria de diesel e petróleo dos EUA. Por outro lado, sem o compromisso de reduzir o uso de combustíveis fósseis, as consequências de eventos climáticos extremos podem ser ainda mais graves para o mundo, estimam especialistas. 

Em novembro de 2025, as nações que firmaram o acordo vão apresentar suas novas ambições de combate ao aquecimento global durante a COP30, que será em Belém, no Pará. O Brasil é o presidente do encontro e tem a missão de facilitar as negociações. O desafio é grande: os dez últimos anos foram os mais quentes da história, sendo que, em 2024, o planeta atingiu as maiores temperaturas já registradas, conforme dados da Organização Mundial de Meteorologia (OMM).

Tarifaço para estrangeiros

Outra medida de Trump que mexeu com economias de todo o mundo foi a imposição de tarifas sobre os produtos importados. “Assim como a China, os Estados Unidos são um país incontornável no comércio internacional. Não tem como não negociar com eles em alguma medida”, diz Leonardo Paz, pesquisador do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional, da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Os primeiros atingidos foram os vizinhos e maiores exportadores para os EUA: Canadá e México. Inicialmente, a resolução impunha a aplicação de tarifas de 25% sobre todos os produtos importados das duas nações, com exceção do petróleo. Para a China, a taxação aumentou 10%.

Na prática, essas taxas são cobradas quando o produto chega ao país e precisa passar pela aduana (ou alfândega). A retirada do produto pelos importadores só é feita mediante o pagamento dessas tarifas. Como o importador tende a repassar o valor da taxa para os consumidores, os produtos estrangeiros ficam mais caros, perdendo competitividade em relação aos nacionais. “É uma estratégia dos Estados Unidos de perseguir seus interesses”, diz Alexandre Pires, professor de relações internacionais e economia do Ibmec.

A decisão de Trump para o México e o Canadá durou poucas horas. No dia seguinte à medida, o presidente prorrogou por 30 dias o início da cobrança, o que abre a possibilidade de haver uma negociação entre os países. Já as tarifas da China entraram em vigor em 4 de fevereiro e, no mesmo dia, o país oriental contra-atacou, impondo taxas de até 15% sobre importações dos EUA e desencadeando uma guerra comercial.

No dia 9 de fevereiro, Trump afirmou para alguns jornalistas que taxaria em 25% todo o aço importado pelo país (até o fechamento dessa edição, não havia um comunicado oficial). Os EUA são um destino importante de produções industriais brasileiras, não só de commodities, como principalmente de produtos de alto valor agregado”, diz Mauro Rochlin, professor da FGV.

O país é o principal comprador do aço brasileiro: 48% das exportações são destinadas aos EUA, mas o impacto no geral pode ser imprevisível. “No primeiro governo Trump, foram criadas barreiras ao aço brasileiro e isso prejudicou a indústria nacional. Mas essas mesmas medidas fizeram a China aumentar as barreiras aos EUA para a soja, o que aumentou o preço do grão, favorecendo o Brasil”, lembra o professor.

Guerra comercial, protecionismo e livre comércio

Taxar produtos importados como os EUA estão fazendo não é uma prática nova. Há muito tempo, os países adotam medidas do gênero quando se sentem ameaçados — é quando acontecem as guerras comerciais.

Quem defende o chamado livre comércio, isto é, a abertura dos mercados entre países, entende que essa medida reduz os preços, traz inovação e ajuda a tornar as empresas locais mais competitivas.

Por outro lado, quem é a favor do fechamento dos mercados e de um controle maior das importações acredita que isso contribui para que as empresas locais vendam mais e gerem empregos. “Há economistas que defendem o livre comércio e outros que são desenvolvimentistas e acreditam na proteção de um mercado local. Nos dois lados há estudiosos que receberam o prêmio Nobel de Economia”, diz Rochlin.

Fontes: CNN e Folha de S.Paulo.

 Menina com celular. Foto criada por diana.grytsku - br.freepik.com

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