O Banco Central do Brasil (BC) fez pela primeira vez um levantamento para apurar os gastos dos brasileiros com apostas on-line em 2024. Os números, divulgados em 25 de setembro, assustam: por mês, o valor médio despendido pela população com esses aplicativos variou entre 18 bilhões de reais e 21 bilhões de reais. Os dados incluem apenas os pagamentos feitos com Pix. Cartões de crédito, que pagam de 10% a 15% das apostas, ficaram de fora.
O estudo apontou também que 17% dos que recebem Bolsa Família estão usando parte do benefício com esses jogos. Somente em agosto, eles transferiram 3 bilhões de reais para casas de apostas virtuais, o que representa 20% do total que é repassado pelo programa todos os meses.
Para muitas dessas famílias, o apelo das apostas está na promessa de dinheiro rápido, uma solução temporária para dívidas ou emergências, mas que frequentemente resulta em um ciclo de compulsão e endividamento.
Em alerta
Os dados fizeram soar um alarme no governo e no setor produtivo. Isso porque o dinheiro gasto com apostas deixa de ser usado para comprar outros itens, como alimentos e roupas. De acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), as apostas on-line retiraram 1,1 bilhão de reais do comércio só no primeiro semestre do ano.
No setor financeiro, a preocupação é com o aumento do endividamento. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) chama a atenção para uma possível bolha de inadimplência e defende a proibição do uso de Pix para pagamento desse serviço.
Para tentar conter o avanço das apostas, o governo prepara medidas restritivas para o setor. Uma delas, anunciada por Fernando Haddad, ministro da Fazenda, será a proibição do uso do cartão Bolsa Família. “Também vamos acompanhar CPF por CPF a evolução da aposta, para evitar duas coisas: quem aposta muito e ganha pouco pode estar com dependência psicológica do jogo; e quem aposta pouco e ganha muito, em geral, é lavagem de dinheiro”, disse o ministro em entrevista à rádio CBN, no dia 30 de setembro.
As empresas de apostas, por sua vez, proibiram o uso de cartão de crédito para pagamento desde o dia 1º de outubro, antecipando a regulamentação do governo que valeria a partir de 2025.
Fontes: BC, Valor Econômico, Portal do Comércio, Folha de S.Paulo e Agência Brasil.