Javier Milei. Foto: Antonio Masiello/Getty Images No dia 14 de fevereiro, Javier Milei, presidente da Argentina, fez uma postagem a respeito de uma nova criptomoeda. O texto dizia o seguinte:
“A Argentina liberal cresce!!! Este projeto privado vai se dedicar a incentivar o crescimento da economia argentina, financiando pequenas empresas e empreendimentos argentinos. O mundo quer viver na Argentina. VIVA LA LIBERTAD CARAJO…!!!”
javier Milei
A mensagem incluía o link do projeto (vivalalibertadproject.com), o código do contrato da moeda digital e o nome da moeda: $Libra.
A repercussão foi instantânea. A criptomoeda disparou 1.300% em pouco mais de uma hora, saindo de 0,12 centavo de dólar a unidade para 4,56 dólares, captando 4,5 bilhões de investidores. Porém, apenas cinco horas depois, Milei apagou a publicação e postou uma nova mensagem se retratando:
“Publiquei um tuíte apoiando um suposto empreendimento privado com o qual obviamente não tenho nenhum vínculo. Não estava informado dos detalhes do projeto e logo que fui informado decidi não seguir divulgando (por isso apaguei o tuíte). Às ratas imundas da casta política que querem aproveitar esta situação para provocar dano, quero dizer que todos os dias confirmam quão rasteiros são os políticos e aumentam nossa convicção de tirá-los (do poder) com chutes no traseiro.”
Javier Milei
O estrago, porém, já estava feito. A moeda colapsou, caindo para uma mínima de 0,13 dólar. Segundo especialistas ouvidos pela rede CNN, os investidores por trás da $Libra teriam realizado um movimento conhecido como rug pull (“puxada de tapete”, em inglês). A manobra consiste em atrair investidores legítimos para valorizar o ativo, e, quando o preço fica bem alto, vendê-los para realizar lucros.
Advogados de investidores lesados entraram com ações judiciais na Argentina e nos Estados Unidos, acusando Milei de promover um investimento fraudulento. A Justiça Federal argentina já recebeu mais de cem pedidos de abertura de processos, e pelo menos um escritório de advocacia apresentou denúncia a autoridades norte-americanas.
Opositores têm acusado Milei de divulgar a moeda digital para obter lucro. Documentos indicam que Julian Peh, CEO da KIP Network (responsável pela plataforma da $Libra), reuniu-se com Milei em outubro de 2024. Outra peça-chave é Hayden Mark Davis, da Kelsen Ventures, um dos criadores da criptomoeda, que afirmou ter trabalhado como assessor de Milei em temas de “tokenização” e disposto do respaldo do presidente.
Em 17 de fevereiro, o presidente argentino voltou a fazer uma postagem sobre a criptomoeda, o que fez o valor voltar a subir. Mais tarde, concedeu uma entrevista dizendo:
“Se você vai ao cassino e perde dinheiro, qual é a reclamação se você sabe que o cassino tem essas características? Aqueles que participaram o fizeram voluntariamente. É um problema entre particulares, porque o Estado não tem nenhum papel aqui. Achei que era uma ferramenta interessante para ajudar pessoas que, de outra forma, não teriam acesso ao crédito”.
Javier Milei
Diante da gravidade da crise, a Casa Rosada emitiu uma nota confirmando que Milei se reuniu com representantes da KIP e Davis para discutir a infraestrutura digital do projeto, mas negou qualquer vínculo com os criadores da $Libra. O governo também anunciou a criação de uma unidade de investigação para apurar crimes financeiros.
Fontes: BBC, CNN e Valor Econômico
