Hollywood é conhecida por reunir diretores premiados, roteiristas geniais e atores que estrelam filmes e séries de sucesso mundial. Mas, desta vez, a indústria cinematográfica não está em evidência pelas superproduções, e sim pela ausência delas.
No dia 2 de maio, o Writers Guild of America (WGA), sindicato que representa cerca de 11.500 roteiristas, decretou greve à toda a classe que atua na televisão, no cinema e nas séries, em busca de melhor remuneração, condições de trabalho mais justas com a chegada do streaming e regras para a utilização de inteligência artificial.
Diante da falta de acordo entre roteiristas e a Alliance of Motion Picture and Television Producers (AMPTP), que representa os estúdios, a Screen Actors Guild-American Federation of Television and Radio Artists (SAG-Aftra), sindicato dos atores de Hollywood, anunciou, no dia 13 de julho, apoio à greve. Mais de 160 mil artistas cruzaram os braços.
É a maior paralisação conjunta desse mercado em 63 anos. Com isso, as produções de Hollywood estão paradas por tempo indeterminado.
Impactos
Sem expectativa de chegar ao fim, a greve impacta a indústria. Programas como Saturday Night Live e The Tonight Show estão suspensos. Diversas séries, como Stranger Things, The Last of Us e o spin-off de Game of Thrones pausaram as gravações. E os longas Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte 2 e Os Fantasmas Se Divertem 2 esvaziaram os sets de filmagem temporariamente. Algumas produções já finalizadas optaram por adiar o lançamento, visto que os atores não podem frequentar eventos de divulgação ou dar entrevistas.
Já o impacto financeiro ainda não pode ser calculado, mas economistas projetam um prejuízo de cerca de 30 milhões de dólares por dia de greve. No Brasil, o movimento pode servir de exemplo para os tipos de contrato firmado, segundo declaração do jornalista Rodrigo Salem no podcast Café da Manhã.
A lista de reinvindicações
Os efeitos do avanço do streaming e da chegada da inteligência artificial (IA) à indústria cinematográfica, que ainda se adapta às novidades, geram boa parte da insatisfação dos profissionais, que exigem:
AUMENTO DOS GANHOS RESIDUAIS (PORCENTAGEM SOBRE AS VENDAS E EXIBIÇÃO DAS PRODUÇÕES) PARA ROTEIRISTAS. Os roteiristas faturavam alto quando seus filmes ou séries eram vendidos pelos estúdios e exibidos na televisão — o que não acontece agora, sob alegação de que não há como medir a audiência no streaming.
2% PARA OS ATORES. Assim como os roteiristas, os atores pedem 2% do valor gerado com o sucesso de audiência de cada produção de que participam.
AUMENTO DE SALÁRIOS. Roteiristas afirmam que os salários estão congelados. Na última década, o valor ajustado pela inflação caiu cerca de 23%.
MUDANÇAS NO MODELO DE TRABALHO. As séries ficaram mais curtas, com tempo indeterminado entre elas. Com o contrato de exclusividade, os escritores e atores afirmam que ficam presos às produções e faturam menos do que antes.
PROTEÇÃO E REGULAMENTAÇÃO DO USO DE IA. Preocupados com a qualidade dos textos, roteiristas pedem regras para o uso da inteligência artificial na escrita. Já os atores exigem uma regulamentação do uso de sua imagem.
O que dizem os estúdios
A AMPTP afirma que, em 2021, os roteiristas receberam pagamento residual recorde de 500 mil dólares. Além disso, declara que a paralisação poderá trazer dificuldades econômicas para milhares de pessoas que dependem dessa indústria.
Alguns estúdios disseram ao jornal The New York Times que o tempo sem espectadores no cinema durante a pandemia e a migração da TV paga para o streaming geraram uma queda nas ações, dificultando a oferta de valores salariais mais altos.
HISTÓRICO DE GREVES HOLLYWOODIANAS A última greve simultânea entre roteiristas e atores foi em 1960, por ganhos residuais pela exibição de seus filmes para a TV. Durou 42 dias e rendeu direitos como plano de saúde e previdência. Em 1980, houve uma nova paralisação de atores, que buscavam participação nos lucros da distribuição de seus filmes para DVD e TV paga. Essa levou cerca de 90 dias para terminar. Já a greve mais longa de roteiristas durou cem dias, entre 2007 e 2008. Eles pediam revisão de ganhos com as vendas de DVDs. Projetos televisivos foram cancelados e filmes adiados. O prejuízo financeiro chegou a 2 bilhões de dólares. |
Fontes: BBC, G1, Exame, Forbes, Omelete, Brazil Journal e Café da Manhã.