Kakeibo: uma forma de organizar suas finanças pessoais

Por Gilberto Gil Passos, fundador da Olimpíada Brasileira de Investimentos
8 de novembro de 2024 em Colunistas, Opinião Jovem, Público

Caro leitor,

Colocar suas contas em dia e começar a investir é um ato de coragem e um passo decisivo para transformar seu futuro. Mas você já se perguntou sobre o caminho para, de fato, concretizar esse desejo? Hoje não faltam ferramentas para ajudá-lo nessa jornada: organizar seu planejamento financeiro, monitorar o orçamento e acompanhar os frutos dos investimentos. Uma dessas ferramentas é certamente ideal para você — mas, para encontrá-la, você precisa antes conhecer a si mesmo: você é mais analógico ou digital? Prefere ter informações ao alcance dos dedos a qualquer momento ou é do tipo que aprecia a pausa para refletir? É alguém que gosta de rabiscar cálculos no papel, manipular planilhas no computador ou quer tudo ao toque no smartphone?

Na nossa coluna de hoje trago à tona a importância do planejamento financeiro para a concretização de sonhos e objetivos de curto, médio e longo prazo. Em especial, vou falar de um método conhecido há mais de um século, que faz parte da cultura financeira dos japoneses: o kakeibo! Você já ouviu falar em kakeibo? É um método japonês de controle financeiro muito popular, criado em 1904, pela jornalista Hani Motoko.

A tarefa pode parecer exaustiva, especialmente no início — e é justamente por isso que funciona, afirmam os especialistas. Pense nesse esforço inicial como um investimento em si mesmo. O primeiro passo é registrar suas despesas com atenção, categorizando os gastos em frequência e prioridade. Para começar, você pode classificar as entradas como: renda (salário, rendimentos, pensões) e, no balanço de despesas, organizá-las em quatro categorias principais: básicos, lazer, cultura e extras. A categoria básicos inclui custos essenciais, como supermercado, transportes, farmácia, despesas com filhos e pets, refletindo gastos necessários para a manutenção do dia a dia. Lazer abrange entretenimento pessoal, como idas a restaurantes, cabeleireiro, bares ou discotecas, compras de roupas e produtos de beleza, sendo atividades ligadas ao bem-estar e diversão. Cultura engloba gastos com enriquecimento cultural, como livros, música e cinema, promovendo o desenvolvimento intelectual e cultural. Por fim, extras abarca despesas menos frequentes e de caráter especial, como viagens, presentes e reparações, incluindo itens que não são parte das necessidades diárias, mas que contribuem para eventos e momentos ocasionais. Um exemplo está na imagem abaixo.

Além de adaptar as categorias conforme sua realidade, uma dica prática é usar cores diferentes para cada uma, tornando o processo visualmente agradável e mais intuitivo. Após identificar e subtrair os gastos essenciais, o que resta pode ser dividido entre “poupar” e “gastar com sabedoria”. Esse método tem como premissa a consciência: ele ajuda a repensar o orçamento, ensinando a “gastar bem” para “poupar melhor”.

Outro ponto importante ao adotar o kakeibo é o convite a responder quatro perguntas fundamentais, que são:

1. Quanto dinheiro você tem disponível?

2. Quanto você gostaria de economizar este mês?

3. Quanto você está gastando?

4. Como você pode melhorar?

Essas perguntas vão além de apenas anotar gastos, elas fazem você repensar seus hábitos financeiros e refletir sobre o que realmente importa. Antes de sair gastando, o kakeibo incentiva você a pensar nos seus objetivos financeiros e em como equilibrar o que ganha com o que economiza. Por exemplo, ao definir uma meta de economia para o mês, você cria um propósito que orienta suas decisões, ajudando a evitar compras por impulso e focar no essencial.

Entre as quatro perguntas, a última — “Como você pode melhorar?” — talvez seja a mais importante. Ao refletir sobre o que deu certo e o que pode ser ajustado, o kakeibo promove um aprendizado contínuo. A ideia é que, mês a mês, você vá ajustando suas práticas, encontrando maneiras de reduzir gastos desnecessários e desenvolvendo uma maior consciência sobre o impacto das suas escolhas financeiras. Esse é um método que reforça a importância de gastar com sabedoria, ajudando a construir uma relação mais saudável com o dinheiro e incentivando o hábito de economizar de forma consistente e com propósito.

Além disso, se você gosta de utilizar programas como Excel, Google Planilhas e similares, também é possível fazer um acompanhamento do seu orçamento, pois essas ferramentas permitem que você registre todos os dados e faça cálculos personalizados. Você pode criar as próprias tabelas ou aproveitar modelos disponíveis na internet. O link a seguir é de uma planilha de orçamento doméstico compartilhada pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), em: https://idec.org.br/planilha/download, que permite acompanhar a origem e o destino do seu dinheiro, estimar os rendimentos para os próximos meses e contabilizar contas parceladas com clareza.

No Brasil, a educação financeira ainda é um desafio a ser muito desenvolvido. Muita gente enfrenta dificuldades para gerenciar os gastos e planejar o orçamento, o que leva a dívidas e apertos financeiros. Dessa maneira, o kakeibo ou planilhas de orçamento podem ser ferramentas para trazer mais controle e consciência ao nosso dia a dia. Responda pra mim, você usa alguma forma de controle de orçamento doméstico? Se não, que tal experimentar o kakeibo e ver como essa técnica pode transformar sua relação com o dinheiro? Comece o quanto antes e vamos juntos nessa jornada rumo a uma vida financeira mais consciente!

Um forte abraço e até a próxima!