Por Eduardo Viseu*
A luta contra o aquecimento global nos desafia a buscar fontes alternativas de energia que não só alimentem nossa crescente demanda, como também reduzam as emissões de Gases de Efeito Estufa. Nesse contexto, o hidrogênio vem se apresentando como uma alternativa promissora.
O hidrogênio é utilizado como combustível há muito tempo — o primeiro motor movido por ele foi desenvolvido em 1806. No século 20, o elemento foi usado em foguetes durante a corrida espacial. Porém só recentemente o hidrogênio se popularizou como uma alternativa aos combustíveis fósseis para os transportes terrestres.
Por mais que seja o elemento mais abundante do planeta, o hidrogênio é encontrado principalmente na forma de H2O e precisa ser convertido em gás hidrogênio (H2) para a sua utilização como combustível. Para entender seu potencial, é essencial saber que ele pode ser “colorido”, dependendo de como é produzido. O gás produzido é o mesmo, sempre incolor — as cores servem apenas para classificar.
O hidrogênio cinza é produzido a partir de combustíveis fósseis, como gás natural, em um processo que emite dióxido de carbono (CO2), contribuindo para o aquecimento global. O hidrogênio azul é semelhante ao cinza em termos de produção, mas emprega tecnologia para capturar e armazenar o CO2 emitido, reduzindo as emissões. No entanto, ainda depende de combustíveis fósseis, o que não é ideal. O hidrogênio verde, por outro lado, é a verdadeira estrela em ascensão. Ele é produzido por um processo químico chamado eletrólise, que usa energia renovável para dividir a água em hidrogênio e oxigênio.
Nações como Austrália, Alemanha, Países Baixos, China, Arábia Saudita e Chile estão à frente em projetos de produção de hidrogênio verde, mas este ainda representa menos de 1% da produção total de hidrogênio em 2022 — ainda que tenha registrado um crescimento de 5% em relação a 2021.
Agora, você deve estar se perguntando: “Mas e os veículos elétricos?”. Carros elétricos já são realidade, porém, no setor de transporte rodoviário, de caminhões, as montadoras não encontraram ainda a solução para a descarbonização. Diante do tamanho e da relevância do setor no Brasil, fazer a transição para energia limpa parece urgente.
O setor de transporte rodoviário concentra 75% do escoamento do total da produção do país. O Brasil tem a maior concentração rodoviária de transporte de cargas e passageiros entre as principais economias mundiais. Em 2016, os caminhões emitiram 84,5 milhões de toneladas de Gases de Efeito Estufa, o equivalente a 4% das emissões anuais do setor de transporte.
Os elétricos ainda não são realidade entre os caminhões pelo peso elevado das baterias, que reduzem a quantidade de carga que pode ser transportada, aumentando o consumo de energia. Além disso, é necessário muito tempo de recarga: em um trajeto de 530 km, por exemplo, caminhoneiros podem perder até uma hora de estrada por dia nos postos de recarga, reduzindo em 15% a distância percorrida.
Já os caminhões movidos a hidrogênio são muito mais eficientes, uma vez que armazenam energia em tanques que, se comparados a baterias, são muito mais leves e rápidos de abastecer. Eles podem ser decisivos para a produtividade do setor.
Apesar de um caminhão movido a hidrogênio ainda ser mais caro hoje, em virtude das vantagens que apresenta e os incentivos a veículos que não emitem CO2, prevê-se que, até 2028, o custo desse veículo ficará mais atraente do que o de um caminhão a diesel ou elétrico. Essas qualidades fazem com que o KPI (índice que mede o desempenho de um investimento) do hidrogênio seja mais valorizado, e é isso que atrai capital na área e possibilita sua implantação.
Atualmente, as projeções indicam que os custos de produção de hidrogênio verde podem diminuir entre 70% e 85%, chegando a 1,40 dólar/kg mundialmente até 2050. Segundo especialistas, para que os preços sejam competitivos com a gasolina e o diesel, é necessário que o hidrogênio custe 2 dólares/kg, marca que pode ser atingida em aproximadamente uma década.
No entanto, será necessário a implantação de políticas públicas que incentivem uma mudança dos combustíveis fósseis para o hidrogênio e, inicialmente, ofereçam subsídios para a formação dessa indústria, a partir do estabelecimento de uma infraestrutura adequada. A aposta no hidrogênio verde é de longo prazo — mas com grandes chances de dar certo.
*Sou Eduardo Viseu, tenho 18 anos e estou no terceiro ano do EM. Sou apaixonado pelo estudo do clima e da produção de energia. Neste espaço, compartilho minhas opiniões sobre o assunto.
Fontes: Fundação Dom Cabral e Ilos.