Tudo começou com um blog para vender as roupas que estavam enchendo espaço dentro do armário. Bastaram três anos para a ideia se transformar em um marketplace no qual os usuários podem colocar à venda roupas, acessórios e objetos que não usam mais e adquirir itens que já foram de outras pessoas. Com mais de um milhão de compradores e outro milhão de vendedores, a plataforma proporcionou a transação de mais de 6,6 milhões de produtos no ano passado.
No coração do negócio está Ana Luiza McLaren, que fundou a empresa ao lado de Tiê Lima, hoje seu marido e CEO da companhia. Nesta entrevista para o TINO Econômico, Ana recebeu na sede da empresa a estudante Maria Eduarda R., de 17 anos, da 2ª série do ensino médio integrado da unidade Imperial da Fundação Instituto de Educação de Barueri (Fieb). Confira como foi o papo.
Como surgiu a ideia de criar o Enjoei?
O Enjoei nasceu de um armário muito desorganizado e pequeno. Um dia, em 2009, eu decidi que precisava arrumar. Fui tirando as roupas e jogando no sofá. Enquanto fazia isso, pedi ao Tiê que pesquisasse se o domínio enjoei.com.br estava disponível — e estava! Criei um blog e coloquei várias coisas para vender. Por que eu quis vender? Porque tem coisas que a gente doa sem pena, mas tem muitas que não doa e não usa porque fica pensando que foi muito cara ou que um dia vai usar, só que esse dia nunca chega. E aí não tem como o guarda-roupa ficar arrumado. Então, o Enjoei nasceu de um problema, e também de muito capricho e muita técnica, porque eu e o Tiê já tínhamos 15 anos de varejo eletrônico antes de criar o Enjoei.
Além de ajudar na organização, o seu negócio colabora com a sustentabilidade.
Sim. A compra normalmente faz parte do ciclo “compro, uso, descarto ou estoco” e para por aí. Quando a gente fala do circular, a dinâmica do ciclo muda. Eu compro, uso (às vezes nem isso, só tenho), passo para outra pessoa que usa e, depois, essa pessoa eventualmente passa para uma terceira, e assim vai. O movimento fica cíclico, o que faz com que se extraia menos recursos da natureza.
Por que o nome Enjoei?
Porque foi o que me veio. No momento em que eu estava tirando as coisas do armário, o meu sentimento era de que eu tinha enjoado, não queria mais usar aquelas peças. A gente é assim. O ser humano é desejoso da novidade. A gente não quer vestir a mesma roupa todo dia, não quer a mesma bolsa a vida inteira. São raras as coisas de que a gente não enjoa. Eu tenho um All Star que comprei na Galeria do Rock, em 2006, que amo e do qual não enjoo. Acho perfeito. Mas são raríssimas as coisas que são assim, o resto a gente enjoa. É porque o All Star, ele vai ficando. Toda vez que eu olho para ele, falo: “Nossa, como pode eu não enjoar dele?”.
E você imaginava que o blog cresceria tanto assim?
Nunca pensei. Até brinco dizendo que eu não tinha a menor ideia do que estava fazendo e que, se tivesse, talvez não tivesse feito, porque é muito trabalho. Eu acho que quem começa a empreender faz isso até de uma maneira meio romântica e, quando vê a dureza do dia a dia, tem que ter muita resiliência para conseguir viver e superar. E quanto mais cresce, maior o tamanho do problema.
Que conselho você daria para os jovens que pensam em empreender?
Eu diria para observarem o que mais gostam de fazer, o que os deixa felizes fazendo. Porque como é um trabalho muito duro, precisa de muita dedicação. Se eu não gostar muito do que estou fazendo, as chances de não conseguir fazer isso por muito tempo e com a intensidade necessária são grandes. Em geral, todo mundo quer ganhar dinheiro e ter uma carreira bem-sucedida do ponto de vista financeiro. Mas se esse fazer não for apoiado em algo verdadeiro no coração de cada um, o trabalho vai virar um fardo, e não uma alegria.
Tem muito jovem que pensa “primeiro vou fazer o que encher meu bolso e, mais para a frente, faço algo para encher o meu coração”. Como você enxerga esse pensamento?
O ideal é que você consiga fazer do que enche o seu coração uma atividade produtiva. Essa é a minha recomendação. Dinheiro é importante. A gente precisa ter condições para manter uma vida satisfatória, com conforto, comida e saúde, e isso custa dinheiro. Então, pense em algo de que você gosta muito e qual é a maneira criativa de tornar isso uma fonte de renda.
Quando tinha 17 anos, empreender já era uma possibilidade para você?
Eu não sabia que seria empreendedora e teria uma empresa. Não pensava isso. Mas eu já vendia Contém 1g, Natura, fazia bijuteria, já dava os meus corres. Fui muito trabalhadeira desde cedo. Eu queria me virar, ter minha vida. Com 17, eu já sabia que queria fazer publicidade e propaganda. Já sabia até a faculdade que gostaria de fazer. Entrei, e no primeiro período já estava trabalhando. No último, tinha bastante experiência.
A pouca idade não atrapalhou quando você começou?
Quando você tem 17 anos, todo mundo vai achar uma graça você ser curiosa. Fazendo estágio com essa idade, o erro está a seu favor. Então, você vai ganhando muita experiência e, quando fica mais velha, já está voando. Com mais idade, ninguém vai te dar esse desconto, é sua obrigação fazer muito bem-feito. Por isso é bom saber trabalhar com isso, colocando o tempo e os aprendizados a seu favor.