
A consultora de projetos de educação financeira Teresa Tayra trocou uma carreira consolidada em tecnologia para se dedicar à educação financeira após perceber a importância desse conhecimento. Hoje, ela trabalha desenvolvendo projetos voltados a escolas e empresas, além de preparar alunos para as olimpíadas do Tesouro Direto. “Quando me formei em tecnologia, a escola nos preparava muito para a profissão, mas não para esse assunto tão presente em todas as fases da nossa vida, que é o dinheiro”, afirma.
Ela conta que o que mais a incentivou a atuar nessa área foi proporcionar uma linguagem fácil, porque muitas vezes a pessoa busca informação na internet, mas nem sempre é adequada para o momento dela. “Falar de dinheiro no nosso cotidiano faz com que fique mais fácil de entender”, diz.

Nesta entrevista ao TINO Econômico, Teresa, que também é autora do livro Mãe, Como Se Ganha Dinheiro?, que será lançado em breve, conversou com Nuno P., aluno do 9º ano da Escola Terra Mater, de São Bernardo do Campo (SP).
Qual o principal desafio de ensinar sobre finanças para adolescentes?
Um desafio bem grande é fazer o jovem enxergar o autoconhecimento. Muitas vezes, ele se sente frustrado porque não consegue comprar algo, mas, no fundo, nem sabe se realmente quer aquilo ou se está apenas comparando a própria vida com a dos outros. Às vezes estamos comprando algo por influência da mídia, da propaganda, dos amigos e acabamos nem lembrando dos nossos próprios interesses. Outro desafio é sobre o tempo. Quando somos jovens, mal percebemos que o futuro é logo ali. Se você poupa desde cedo, o esforço é muito menor, mas nesse momento os adolescentes estão focados no presente. E um terceiro desafio é fazer a família entender que educação financeira é um assunto de família. Por mais que a gente leve à escola, é no cotidiano que realmente vemos onde estão nossas prioridades e melhores escolhas.
Como você consegue adaptar os diferentes conteúdos financeiros para as diversas faixas etárias?
Se dividirmos esse tema em três grandes blocos, falamos sobre gastar dinheiro, ganhar dinheiro e investir dinheiro. Como conversar sobre ganhar dinheiro com uma criança, que não trabalha? Precisamos usar a linguagem certa para que ela entenda. Nessa idade, já conseguimos exercitar vários elementos que fazem a criança compreender como enxergar as próprias habilidades. O conceito-base é o mesmo para todas as idades: escolhas e prioridades. Apenas ajustamos o modo de falar para cada faixa etária.
Quais são os principais erros cometidos pelos jovens em relação a dinheiro?
Um erro comum é achar que o dinheiro é o fim, e não o meio. Muitas vezes chego a uma classe e pergunto o que as crianças querem ser, e elas respondem: “Quero ser rica”. Mas o dinheiro não é o objetivo final, ele tem um propósito — comprar algo ou conquistar liberdade financeira. Outro erro é achar que se ganha dinheiro com investimentos, quando, na verdade, o maior valor para ganhar dinheiro vem do trabalho e dos negócios. Precisamos sempre falar isso para os jovens, porque hoje a internet despeja informação demais, muitas vezes levando a um caminho que talvez não seja o melhor a seguir.
Como as pessoas que prometem enriquecimento fácil na internet afetam os jovens?
Quando alguém não tem acesso à educação financeira, não tem parâmetros. Já se entende que existe uma taxa referencial de juros, quando uma pessoa oferece algo muito acima daquela referência, sabe que é motivo para suspeitar. É importante também entender o conceito de pirâmide financeira. Quanto mais você está familiarizado com fundamentos financeiros básicos, mais fácil é se blindar de golpes. Gosto muito de comparar investimentos com plantar algo na natureza: não é de uma hora para outra que a planta cresce — ela precisa de tempo, cuidado e proteção contra riscos.
O que ainda falta para a educação financeira ser mais acessível em todas as escolas do país?
Muitas pessoas não sabem, mas a educação financeira já é obrigatória nas escolas, faz parte da Base Nacional Comum Curricular. Existem programas do governo, como as olimpíadas do Tesouro Direto, que dão acesso a materiais. Só esse movimento fez com que mais de 500 mil alunos tivessem acesso à educação financeira. O que falta é uma conscientização dos gestores escolares, dos professores e dos responsáveis. Cada um fazendo sua parte, pode mudar todo o contexto.
Como os pais podem aprimorar o ensino sobre finanças em casa?
Muitas vezes, a educação financeira chega aos pais por intermédio dos filhos. É um assunto que conecta a família porque faz parte do cotidiano de todos. Hoje, a informação está muito mais acessível. Existem livros, vídeos, influenciadores que abordam o tema. O importante é encontrar alguém que fale na sua linguagem e sobre a sua realidade.
Como as crianças reagem quando começam a aprender sobre educação financeira?
No primeiro dia de aula, muitas crianças acham que será apenas matemática ou que vamos falar para elas gastarem menos. Depois se surpreendem, porque conversar sobre dinheiro é muito mais do que contas, está relacionado a comportamentos, escolhas e gatilhos de consumo. Nossas aulas são muito participativas, não deixamos o aluno passivo. Os professores sempre relatam que há muita participação, até daquele estudante que normalmente fica mais quieto, porque é um assunto que está na vida dele.
Quais são os impactos de aprender sobre educação financeira desde cedo?
Um jovem que entra no mercado de trabalho já com noção sobre dinheiro tem consciência clara de poupar, sabe que poupar pouco, mas de modo constante, dá resultado. Ele entende que, se vai ganhar mais ao longo da carreira, não significa que deve gastar mais, e sim que pode poupar mais. Isso muda completamente a vida de um adulto, evitando que caia no índice dos endividados logo nos primeiros salários.
O que pode ser feito para crianças que não têm acesso a essa educação?
Existem muitas iniciativas e projetos sociais que levam educação financeira a locais que normalmente não teriam acesso. Se você é professor, responsável ou alguém de uma comunidade, busque esses projetos. Não é porque você não tem acesso agora que não existem outros caminhos. Tudo começa com um desejo. Em uma experiência que fiz dando a mesma aula em uma escola de elite e em uma escola pública, percebi que quem aproveitou mais foram os alunos curiosos, independentemente da classe social. Também precisamos incentivar isso: ganha mais quem é curioso e interessado.