A Oxfam, instituição global independente e sem fins lucrativos de combate à desigualdade, apresentou no dia 16 de janeiro o relatório “A ‘sobrevivência’ do mais rico: por que é preciso tributar os super-ricos agora para combater as desigualdades”.
O material evidencia o efeito da pandemia de covid-19 no aumento da desigualdade social. Na última década, os bilionários concentraram mais da metade da riqueza do mundo, mas, entre 2020 e 2022, durante a pandemia, esse número cresceu. Os mais ricos acumularam dois terços da riqueza global, seis vezes mais do que a maioria da população.
Aumento da pobreza extrema
Por outro lado, a pobreza extrema (pessoas que vivem com menos de 2,15 dólares ou 10,98 reais por dia) que vinha em constante queda nos últimos dez anos, em 2020 voltou a crescer. Mais de 70 milhões de pessoas chegaram a essa situação. Em 2021, a redução foi retomada, ainda lentamente.
Em 25 anos, esta foi a primeira vez que a riqueza extrema e a pobreza extrema cresceram ao mesmo tempo. Durante as restrições causadas pela pandemia, os mais pobres foram ainda mais afetados. “Segundo o Banco Mundial, durante os piores momentos da pandemia, a perda de renda entre os 40% mais pobres da humanidade foi duas vezes maior do que entre os 20% mais ricos, e a desigualdade global de renda aumentou pela primeira vez em décadas”, destaca a Oxfam no relatório.
Como diminuir a desigualdade
O patrimônio da minoria rica aumentou cerca de 2,7 bilhões de dólares por dia. A cada um dólar obtido por 90% da população, os mais ricos ganharam 1,7 milhão de dólares nos últimos dois anos.
Diante desse cenário e da complexidade da desigualdade mundial, a Oxfam sugere ações efetivas de taxação de renda, criando impostos solidários sobre grandes patrimônios e lucros inesperados das empresas. Segundo análise, a criação de um imposto de até 5% para os ricos arrecadaria US$ 1,7 trilhão de dólares por ano, o necessário para tirar 2 bilhões de pessoas da pobreza e custear um plano de combate à fome em todo o mundo.
O resultado da pesquisa “Nós e as desigualdades 2022”, liderada pela instituição, mostra que os brasileiros apoiam essa solução. Cerca de 85% dos participantes concordam com impostos maiores para os mais ricos, gerando verba para financiar serviços essenciais para toda a população do país.
Jefferson Nascimento, coordenador de justiça social e econômica da Oxfam Brasil, reforçou em entrevista para o Correio Braziliense que o Brasil é um dos poucos países em que os dividendos (parcela do lucro líquido das empresas dividida entre os acionistas) não são taxados. E que a alíquota do Imposto de Renda (valor percentual usado para calcular o valor a pagar) para os mais ricos (com renda acima de 55.976 reais por ano), é de 27,5%, menor do que a de países como EUA, Alemanha, China e Suécia.