A influência que vem dos EUA

Entenda por que notícias econômicas dos Estados Unidos mexem tanto com a economia no Brasil
3 de setembro de 2024 em Edições Impressas, Internacional

O dia 5 agosto foi de pessimismo nas bolsas de valores de todo o mundo. O motivo? Dados do mercado de trabalho dos Estados Unidos (EUA), que mostraram que as empresas estavam contratando menos, despertaram o temor de recessão da economia do país. A consequência foi uma queda global das bolsas de valores, inclusive a do Brasil.

Semanas depois, no dia 20 de agosto, o Ibovespa, índice que mede a valorização da bolsa brasileira, apresentou forte alta, atingindo sua máxima histórica. De novo, o principal influenciador foram os EUA, com a expectativa de queda nos juros por lá, o que poderia aquecer o mercado por aqui.

Seja na alta ou na baixa, a influência norte-americana no cenário econômico brasileiro é forte. “Há dois fatores que explicam essa relação: um comercial e outro, financeiro”, explica Mauro Rochlin, coordenador do MBA de gestão estratégica e econômica de negócios da Fundação Getulio Vargas.

O fator comercial tem a ver com as exportações e importações. Os EUA são um parceiro comercial relevante: 15% de tudo o que o Brasil vende para o exterior vai para o território norte-americano. “O que a gente exporta para os EUA são produtos mais caros, de alto valor agregado, como aço”, diz Rochlin. “É diferente da soja, do milho, do café, que não são industrializados.”

O fator financeiro é mais relevante e tem a ver com a taxa de juros norte-americana. Ela remunera quem adquire um título da dívida do governo dos EUA. “Todo mundo que compra um título está interessado em ganhar com os juros e, quanto maior for a taxa, mais interessados os compradores ficarão”, afirma Rochlin. “O que acontece com a taxa de juros lá, portanto, tem uma tremenda influência sobre os demais países.”

Taxa de juros nos EUA x câmbio no Brasil

Essa influência acontece porque as outras nações também vendem títulos de suas dívidas. Há, por consequência, um mercado internacional, no qual os concorrentes disputam a atenção — e os dólares — dos investidores.

Quando a taxa de juros fica muito baixa nos EUA, gerando um ganho menor, os investidores topam aplicar em países de maior risco, como o Brasil, em troca de mais rentabilidade. Já quando a taxa de juros fica alta nos EUA, os investidores tendem a preferir colocar o dinheiro no mercado norte-americano.

Para comprar os títulos, o investidor precisa de dólar. Para isso, adquire a moeda no próprio país, e a demanda maior afeta o câmbio, tornando o dólar mais caro.

A variação do câmbio, por sua vez, impacta a economia local. Com o valor do dólar mais alto, as importações ficam mais caras (a compra de insumos estrangeiros é paga em dólar), aumentando o preço de produtos que dependem desses itens, como gasolina, remédios e até pão.

 Menina com celular. Foto criada por diana.grytsku - br.freepik.com

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