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A crise dos bancos: entenda como tudo começou

22 de março de 2023 em Mercado
Silicon Valley Bank Foto: Getty Images

Bancos quebrando em diferentes cantos do mundo, autoridades financeiras prometendo socorro e bolsas de valores em um sobe e desce nervoso. Estes são alguns dos efeitos da crise que vem afetando o mercado financeiro nas últimas semanas.

Como tudo começou

Apesar de os efeitos estarem aparecendo só agora, as causas dessa agitação vêm de alguns anos atrás. Mais precisamente de 2020, no início da pandemia da covid-19, quando a restrição de atividades comerciais fez a oferta de produtos diminuir, aumentando os preços de grande parte do que consumimos, como alimentos.

O passo seguinte para aumentar ainda mais os preços veio em 2022, com a guerra na Ucrânia, que desestabilizou a distribuição de matérias-primas importantes para a economia mundial, como gás natural, petróleo e trigo. Com isso, a inflação disparou nas principais economias do mundo. Chegou a 6,5% nos Estados Unidos, 8,6% na Alemanha, 10,5% no Reino Unido e 11,9% na Rússia.

Contra a inflação, aumento dos juros

Para segurar a inflação, que é nefasta para qualquer economia, os bancos centrais, que são a autoridade monetária dos países, decidiram aumentar os juros. Por quê? Porque quando os juros aumentam, pegar dinheiro emprestado ou fazer compras parceladas fica mais caro. Isso faz com que as pessoas e empresas diminuam gastos, o que ajuda a inflação cair.

Como isso interferiu na gestão dos bancos

A decisão das economias mundiais de aumentar os juros foi prejudicial para a estratégia de alguns bancos, que aparentemente não previam um aumento dos juros de modo tão acelerado. “Certamente, com a alta dos juros, foi difícil para alguns bancos manejarem sua situação. Depois de muitos anos com uma política de juros baixos, as instituições se acostumaram a fazer financiamento esperando sempre taxas reduzidas. Nem todos foram cuidadosos para fazer operações de empréstimo”, diz Marcio Rochlin, economista e professor da Fundação Getulio Vargas.

SVB, a primeira vítima

O primeiro banco que foi à lona foi o Silicon Valley Bank, o SVB. A derrocada da instituição começou quando potenciais investidores de startups (empresas de tecnologia com alto potencial de crescimento) passaram a desistir de colocar dinheiro nas companhias para aplicar em outros investimentos, como renda fixa, que prometiam um retorno mais vantajoso e garantido em razão da alta dos juros.

Com as startups recebendo menos dinheiro, elas precisaram sacar seus recursos no banco para pagar as contas. Este, por sua vez, necessitou da venda de títulos públicos para ter o dinheiro necessário para honrar os saques. A operação gerou prejuízo, porque os papéis foram vendidos a um preço menor do que foram comprados. Para recuperar o montante perdido, o banco anunciou que venderia parte de suas ações.

O anúncio amedrontou o mercado de investidores e fez com que muitas empresas se assustassem e, com medo de perder dinheiro, decidissem sacar todo o valor que tinham depositado no SVB. A corrida para retirar o dinheiro causou a quebra da instituição. Isso porque nenhum banco tem em caixa o valor total que é depositado pelos clientes. Quando um cliente faz um investimento, ele teoricamente está “emprestando” essa quantia ao banco, que devolve o valor com juros, em forma de rendimento da aplicação.

O banco pode usar esse dinheiro para emprestar a outro cliente, que também paga juros sobre o valor adquirido. Essa ciranda de vaivém do dinheiro é que compõe o sistema financeiro que conhecemos hoje.

O sistema financeiro é baseado em confiança

Como parte do dinheiro depositado no banco está circulando no mercado, se todos os clientes decidirem sacar o que têm, a instituição não terá recursos suficientes para fazer os pagamentos e irá quebrar.

Isso significa que o mercado financeiro depende de confiança, pois qualquer dúvida sobre a saúde financeira faz os clientes correrem para sacar seu dinheiro. Quando um banco vai à falência, é comum que os correntistas se perguntem: “Será que meu banco não está com o mesmo problema?”. “Se esse tipo de dúvida não for solucionado rapidamente, acontece uma profecia autocumprida, ou seja, os clientes sacam recursos e o banco, que estava financeiramente saudável, quebra”, diz Rochlin.

Voltando ao SVB

Por isso, quando o SVB quebrou, o Federal Reserve (FED), banco central norte-americano, anunciou uma intervenção na instituição e garantiu que todos os depósitos feitos pelos clientes seriam devolvidos. Se isso não fosse feito, a falência poderia comprometer a economia mundial. 

Logo depois do SVB, outros bancos também se mostraram suscetíveis aos juros altos e precisaram ser socorridos. Foi o caso do Signature e Silvergate. Do outro lado do Atlântico, na Suíça, o Credit Suisse também precisou ser resgatado. Com o apoio do banco central local, ele foi adquirido pelo principal concorrente, o UBS.

A operação de salvamento dos bancos realizada pelos governos é criticada por muitos, mas acaba sendo a solução menos traumática para todos. “Se um banco grande quebra e deixa os correntistas sem recursos, pode gerar uma aversão a risco que pode ser desastrosa para a economia mundial”, afirma o professor da FGV.

Proteção do FGC no Brasil

No Brasil, o mecanismo de proteção do sistema financeiro é o Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Se um banco quebrar, a instituição garante que todos os correntistas poderão sacar seu dinheiro até um limite de 250 mil reais. Ou seja, o dinheiro da conta bancária, da poupança e das aplicações não será totalmente perdido.

O FGC tem hoje 3,5 trilhões de reais para garantir a saúde dos bancos brasileiros. O valor vem principalmente das tarifas pagas pelos bancos, que é de um bips (equivalente a um centésimo de 1%, ou 1% dividido por cem) por mês sobre os valores que tem. Então, se o banco tem um valor elegível à proteção de cem reais, vai recolher um centavo para o FGC. É isso que garante a segurança do nosso rico dinheirinho.

 Menina com celular. Foto criada por diana.grytsku - br.freepik.com

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