
Caros leitores e leitoras,
Dias atrás, em uma conversa com um amigo de longa data, surgiu um questionamento que me pareceu tão relevante que decidi compartilhá-lo com vocês. Ele já acumulou um bom capital ao longo da vida — fruto de trabalho duro, renúncias e escolhas financeiras cuidadosas — e agora, prestes a reduzir a carga de trabalho e entrar numa nova fase, perguntou: “Gil, qual é a maneira mais adequada de tirar renda dos meus investimentos? Como posso fazer isso com segurança?”.
Essa é uma pergunta que, talvez, esteja na cabeça de muitos de vocês daqui a um tempo. Afinal, transformar patrimônio acumulado em uma fonte segura de renda exige planejamento, compreensão das ferramentas disponíveis e, acima de tudo, uma boa dose de tranquilidade. A resposta vai depender do perfil de risco, do horizonte de tempo e do estilo de vida que se deseja manter. O mercado oferece algumas alternativas bem interessantes para quem busca esse tipo de estratégia.
Comecemos, então, por uma base sólida e confiável: o Tesouro Direto, que oferece títulos públicos com diferentes formas de remuneração e prazos. Ao investir nesses títulos, você está emprestando dinheiro ao governo brasileiro, que promete devolvê-lo no futuro com juros, de modo estruturado e seguro. A seguir, destaco três títulos do Tesouro Direto que podem ser especialmente úteis para quem busca renda periódica ou planejada para a aposentadoria:
1. Tesouro Renda+
Criado com foco na aposentadoria, o Tesouro Renda+ é como uma “previdência direta”. Você escolhe o ano em que quer começar a receber e, a partir dali, o governo paga uma renda mensal corrigida pela inflação durante 20 anos. Ele é ideal para quem ainda está na fase final de acúmulo de capital e deseja iniciar os recebimentos mais adiante, com previsibilidade.
Importante: ao fim desses 20 anos, o valor total investido é amortizado — ou seja, ele é feito para durar um ciclo planejado, não para gerar renda indefinidamente.
2. Tesouro Prefixado com juros semestrais (2035)
Este título é vendido hoje por cerca de 807,7 reais e tem vencimento em 1/1/2035. A cada semestre (janeiro e julho), ele paga 50 reais por título, correspondentes a 5% ao ano sobre o valor de face (mil reais). No vencimento, você recebe os mil reais por título.
Por exemplo, se você adquirir mil títulos, receberá aproximadamente 50 mil reais por semestre e um milhão de reais no vencimento. É uma forma de gerar renda com valores fixos, ideal para quem gosta de previsibilidade e já quer começar a receber agora.
3. Tesouro IPCA+ com juros semestrais
Este título combina segurança com proteção contra a inflação. Ele paga uma taxa real, geralmente em torno de 6% ao ano, dividida em dois pagamentos semestrais — ou seja, cerca de 3% do VNA por semestre. Os pagamentos ocorrem, em geral, nos meses de maio e novembro.
O rendimento incide sobre o chamado VNA (Valor Nominal Atualizado) — que é corrigido pela inflação (IPCA). Você pode consultar o VNA atualizado no site da Anbima. Se hoje o VNA estiver em 4,5 mil reais, por exemplo, o pagamento semestral será em torno de 135 reais por título; e, no vencimento, você recebe o valor atualizado do VNA.
Hoje, o título cheio está sendo negociado a aproximadamente 4,1 mil reais. O valor investido e os rendimentos acompanham a inflação ao longo do tempo — o que oferece uma proteção para manter o poder de compra da sua renda.
4. Crédito privado: mais rendimento, porém mais atenção
Se o Tesouro Direto é a base sólida, o crédito privado é a camada que pode dar sabor ao portfólio. Estamos falando de debêntures, CRIs e CRAs — títulos emitidos por empresas para financiar seus projetos. Esses papéis, em geral, oferecem rentabilidades mais atrativas do que o Tesouro, mas pedem atenção redobrada: o risco de crédito (a possibilidade de a empresa não pagar) está presente.
Para quem está buscando renda, existem debêntures que também pagam juros semestrais, e algumas são incentivadas, o que significa que o rendimento é isento de imposto de renda. Para adquirir esses ativos, devemos olhar para empresas sólidas, setores estáveis e diversificar. Não coloque todos os ovos na mesma cesta — nem os juros da sua aposentadoria na mão de uma só empresa.
+ Um pouquinho de cada é mais seguro
5. Dividendos e fundos imobiliários
No mundo da renda variável, há também oportunidades para quem busca rendimento. Ações que pagam dividendos regularmente são uma maneira de receber parte do lucro das empresas, e muitas delas têm políticas claras e previsíveis de distribuição. Bancos e empresas do setor de energia costumam figurar entre as preferidas dos investidores de dividendos.
Mas vale lembrar: ações oscilam. Mesmo boas pagadoras de dividendos podem passar por períodos difíceis. Por isso, aqui a palavra mágica é “diversificação”. E, claro, paciência. Os dividendos tendem a crescer com o tempo, acompanhando a evolução da empresa.
Outro caminho muito procurado são os Fundos de Investimento Imobiliário (FIIs). Eles reúnem imóveis comerciais, shoppings, galpões logísticos e distribuem praticamente todo o lucro aos cotistas, muitas vezes mensalmente. É quase como ser sócio de um prédio sem precisar cuidar do elevador ou do condomínio. Os FIIs também têm oscilação de preço, mas sua renda tende a ser mais estável — e isenta de imposto de renda para pessoas físicas, o que é uma baita vantagem.
+ Que tal ser dono de um pedaço de shopping?
Essa fase de transição é muito sensível e não existe uma receita universal — o que existe é um processo que deve ser feito com calma, estudo e, se necessário, ajuda de um bom profissional. A conversa com esse meu amigo me fez admirar de perto esse belo desfecho de quando você colhe os frutos de uma jornada longa. Por isso, cuidar da renda da aposentadoria é cuidar da liberdade de dizer “sim” para o que realmente importa. E você? Tem alguma dúvida sobre algum tema de finanças? Manda para a gente. Sua pergunta pode ser o tema da próxima conversa desta coluna.
Um forte abraço.