Remédio amargo para a Argentina sair da crise

Corte radical nos gastos do governo melhora os indicadores econômicos, mas efeito colateral das medidas provoca aumento da pobreza
8 de abril de 2025 em Edições Impressas, Internacional
Argentinos desempregados fazem fila para receber comida em ação organizada por movimentos sociais em Buenos Aires | Foto: Getty Images

“No hay plata.” Esta foi uma frase exaustivamente repetida por Javier Milei, presidente da Argentina, desde que assumiu o cargo, em 10 de dezembro de 2023. A frase traduzida para o português significa “não tem dinheiro” e simboliza bem o severo corte de gastos promovido no país a partir da posse.

As medidas adotadas foram batizadas de “Plano Motosserra” e incluem corte agressivo nos gastos públicos, com a redução de ministérios e suspensão de obras. Os preços foram liberados, rompendo com o sistema anterior de indexação ao dólar, cujo valor era controlado pelo governo. Houve também uma abertura ao mercado internacional, estimulada pela desvalorização do peso, a moeda local.

A prioridade foi estabilizar a economia, que passava por uma grave crise há muito tempo. Entre outros indicadores ruins, a inflação argentina chegava a 300% ao ano. “A inflação é o pior imposto que a sociedade pode pagar”, diz José Carlos de Souza Filho, professor da FIA Business School. A falta de estabilidade também atrapalha a confiança da população, o que inibe investimentos e compromete o crescimento do país.

As consequências

Os resultados começam a aparecer. A inflação, por exemplo, baixou de 25,5% em dezembro de 2023 para 2,4% em fevereiro de 2025, segundo dados oficiais do governo argentino. Já o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,4% no último trimestre de 2024.

Mas os cortes de custos foram um remédio amargo para o país. Como efeito colateral, houve aumento do desemprego e o consequente crescimento da pobreza — acentuado pelo corte de pensões aos aposentados. O percentual de pessoas abaixo da linha de pobreza atingiu 38,9% no terceiro trimestre de 2024.

O desafio agora é manter a população confiante de que os frutos dos ajustes vão chegar para todos. “Os reflexos para o social não vêm na mesma velocidade. Leva tempo para o impacto do crescimento econômico chegar à população mais pobre”, diz Souza Filho.

Torcidas de futebol protestam

O grupo dos aposentados foi um dos mais afetados pelas medidas econômicas. Sem o reajuste para cobrir a inflação, eles perderam poder de compra e foram às ruas se manifestar, exigindo correção de valores e a retomada de direitos cortados.

As mobilizações, que foram reprimidas pela polícia, ganharam força com o apoio inusitado de torcedores de futebol. Tudo porque uma cena envolvendo um idoso vestido com a camisa do Chacarita Juniors (clube de futebol) sendo intimidado pelas forças de segurança viralizou e fez com que torcidas organizadas do Boca Juniors, River Plate e Independiente se unissem aos protestos em solidariedade aos aposentados.

Fontes: CNN, Folha de S.Paulo, Poder360, G1, InfoMoney, Indec e governo da Argentina.

 Menina com celular. Foto criada por diana.grytsku - br.freepik.com

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