No dia 23 de janeiro, Ainda Estou Aqui, longa-metragem dirigido por Walter Salles que conta a história da família Paiva durante a ditadura militar no Brasil, foi nomeado a três categorias no Oscar: Melhor Filme Internacional, Melhor Atriz, com a protagonista, Fernanda Torres, e Melhor Filme, indicação inédita para produções brasileiras. Em sua 97ª edição, o prêmio é o mais importante do cinema mundial.
As indicações são um feito inédito para o cinema brasileiro e resultado de uma longa — e cara — campanha internacional para chamar a atenção e cativar os mais de 10 mil integrantes votantes da academia do Oscar. “O filme tem um orçamento de campanha à altura de grandes candidatos norte-americanos”, afirma Juliana Sakae, especialista em campanhas de Oscar para filmes independentes e cofundadora do Muritiba Filmes.
A campanha
Segundo Michael Barker, copresidente da Sony Pictures Classics, distribuidora do filme brasileiro, todas as campanhas de Oscar têm o mesmo objetivo: fazer com que o maior número de votantes da academia assista ao filme. Para isso, inúmeras ações de divulgação são colocadas em prática (veja o quadro), em diversos países, por um período que pode durar meses. “Eu comparo uma campanha de Oscar a uma campanha presidencial — ela é tão intensa quanto”, conta Sakae.
As campanhas podem custar tão caro quanto as próprias produções — às vezes, até mais. Para se ter uma ideia, um anúncio publicitário na homepage de sites especializados, como a revista digital Deadline, custa 55 mil dólares (em torno de 318,5 mil reais). Já a publicidade em dez episódios de um podcast do grupo chega a 50 mil dólares (289,6 mil reais). Para ter um encarte na revista The Envelope, do jornal LA Times, é preciso desembolsar a partir de 67,5 mil dólares (391,4 mil reais). Se optar por um de meia página, o preço cai para 19,5 mil dólares (113 mil reais). Esses valores são pagos diretamente aos veículos.
O Oscar permite o envio semanal de e-mails aos votantes do filme para convencê-los a assistir às películas. Na fase inicial, em que os integrantes da academia votam em suas respectivas categorias (diretor vota para Melhor Direção, atriz para Melhor Atriz, e assim por diante) e na de Melhor Filme, o disparo de e-mails para uma das bases custa entre 500 e mil dólares (2,8 mil a 5,7 mil reais) por semana. É na fase inicial que são escolhidos os filmes indicados.
Já na fase final, quando os mais de 10 mil integrantes votam em todas as categorias, um único e-mail custa, em média, 3 mil dólares (17 mil reais). Ou seja, se um e-mail é disparado para toda a base, o valor fica em 170 milhões de reais.
No orçamento da campanha ainda devem ser contabilizados os gastos com passagens aéreas, deslocamentos de equipe, hospedagens e alimentação, somando mais alguns milhões de reais.
Quem paga essa conta?
Para arrecadar quantias, a produção de um filme busca parcerias com órgãos como consulados, instituições regionais de cinema e patrocinadores. Mas são as distribuidoras que assumem grande parte dos custos. No caso de Ainda Estou Aqui, essa função é desempenhada pela Sony Pictures Classics, desde maio de 2024.
Fontes: Academia Brasileira de Cinema e CNN.