8 mins

O que a polêmica do Carrefour ensina sobre protecionismo

CEO global da varejista francesa disse que não compraria mais a carne de produtores do Mercosul, porque não atendiam às exigências e normas
28 de novembro de 2024 em Nacional
Produção de carne da JBS, no Brasil (Foto: Juan Forero/The Washington Post via Getty Images)

Na semana passada, Alexandre Bompard, CEO Global do Carrefour, fez um comunicado em suas redes sociais afirmando que a rede varejista na França não iria mais comprar carnes do Mercosul, o que atingiria diretamente o Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.

A declaração veio após protestos de agricultores e pecuaristas franceses contra o acordo de livre comércio entre União Europeia e Mercosul. Um acordo de livre comércio significa a compra e venda de produtos entre os países dos dois blocos sem a taxação de impostos. O receio dos produtores europeus é que, sem nenhuma taxação, a carne sul-americana chegue muito barata à Europa, comprometendo os ganhos dos fornecedores locais.

Eu seu comunicado, Bompard escreveu: “Em toda a França, ouvimos o desespero e a indignação dos agricultores diante do projeto de acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul e o risco de inundação do mercado francês com carne que não atende às suas exigências e normas”.

O texto incomodou produtores brasileiros por colocar em dúvida a qualidade da carne do país. Em resposta, grandes frigoríficos brasileiros anunciaram um boicote, deixando de fornecer seus produtos para as lojas do Carrefour aqui no Brasil.

A atitude foi apoiada pelo Ministro da Agricultura, Carlos Fávaro. “Se para o povo francês o Carrefour não compra carne brasileira, que o Carrefour também não compre carne brasileira para colocar nas suas gôndolas aqui no Brasil”, afirmou.

A polêmica foi grande e obrigou o CEO global do Carrefour a fazer um pedido de desculpas formal, enviando uma carta ao ministro.

A decisão do Carrefour de não importar carne brasileira é uma política econômica chamada de protecionismo. Essa é uma tática adotada por governos para proteger a economia local da concorrência estrangeira. Ela envolve a implementação de medidas que dificultam ou tornam menos atrativas as importações de bens e serviços, com o objetivo de favorecer a produção nacional.

Segundo Celso Grisi, professor da FIA Business School, essa é uma prática legítima e reconhecida internacionalmente quando usada para seu propósito original: proteger indústrias nascentes. Porém, recentemente, o termo tem sido usado para justificar disputas comerciais e políticas, como no caso do Carrefour e a carne brasileira.

“Protecionismo é uma forma de proteger indústrias nacionais nascentes”, explica. “Isso é aceito internacionalmente e reconhecido como necessário porque as atividades locais protegidas podem prosperar bem no futuro, trazer novos empregos, trazer aumento de renda, desenvolvimento”.

O protecionismo pode se manifestar de várias formas. As mais comuns são: tarifas sobre produtos importados, cotas de importação e barreiras técnicas. No caso do Carrefour, a empresa francesa utilizou o terceiro método, aplicando barreiras técnicas infundadas contra a carne latino-americana, afirmando que a produção do Brasil está agredindo o meio ambiente e abaixo dos padrões internacionais.

Segundo Grisi, o caso do Carrefour ilustra como o protecionismo tem sido desvirtuado de seu propósito original, entrando num contexto mais político do que econômico.

Fontes: G1 e Veja.

 Menina com celular. Foto criada por diana.grytsku - br.freepik.com

Já tem cadastro?

Acesse!

Não tem cadastro?

Assine!