O estrago das apostas on-line para a economia

Além de afetar a saúde financeira da população, as bets podem prejudicar a economia do país; governo prepara medidas para inibir abusos
8 de outubro de 2024 em Edições Impressas, Nacional
Foto: Getty Images

O Banco Central do Brasil (BC) fez pela primeira vez um levantamento para apurar os gastos dos brasileiros com apostas on-line em 2024. Os números, divulgados em 25 de setembro, assustam: por mês, o valor médio despendido pela população com esses aplicativos variou entre 18 bilhões de reais e 21 bilhões de reais. Os dados incluem apenas os pagamentos feitos com Pix. Cartões de crédito, que pagam de 10% a 15% das apostas, ficaram de fora.

O estudo apontou também que 17% dos que recebem Bolsa Família estão usando parte do benefício com esses jogos. Somente em agosto, eles transferiram 3 bilhões de reais para casas de apostas virtuais, o que representa 20% do total que é repassado pelo programa todos os meses.

Para muitas dessas famílias, o apelo das apostas está na promessa de dinheiro rápido, uma solução temporária para dívidas ou emergências, mas que frequentemente resulta em um ciclo de compulsão e endividamento.

Em alerta

Os dados fizeram soar um alarme no governo e no setor produtivo. Isso porque o dinheiro gasto com apostas deixa de ser usado para comprar outros itens, como alimentos e roupas. De acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), as apostas on-line retiraram 1,1 bilhão de reais do comércio só no primeiro semestre do ano.

No setor financeiro, a preocupação é com o aumento do endividamento. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) chama a atenção para uma possível bolha de inadimplência e defende a proibição do uso de Pix para pagamento desse serviço.

Para tentar conter o avanço das apostas, o governo prepara medidas restritivas para o setor. Uma delas, anunciada por Fernando Haddad, ministro da Fazenda, será a proibição do uso do cartão Bolsa Família. “Também vamos acompanhar CPF por CPF a evolução da aposta, para evitar duas coisas: quem aposta muito e ganha pouco pode estar com dependência psicológica do jogo; e quem aposta pouco e ganha muito, em geral, é lavagem de dinheiro”, disse o ministro em entrevista à rádio CBN, no dia 30 de setembro.

As empresas de apostas, por sua vez, proibiram o uso de cartão de crédito para pagamento desde o dia 1º de outubro, antecipando a regulamentação do governo que valeria a partir de 2025.

Fontes: BC, Valor Econômico, Portal do Comércio, Folha de S.Paulo e Agência Brasil.

 Menina com celular. Foto criada por diana.grytsku - br.freepik.com

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