Wendy Carraro decidiu estudar educação financeira aos 12 anos, quando foi trabalhar no escritório do pai. Como ficava o dia todo no local, ela notava que havia poucos clientes, mas, ainda assim, o pai não revelava detalhes das finanças e fazia questão de buscar uma solução para o orçamento sozinho. Ele acreditava que era sua obrigação, como chefe de família, garantir o sustento de todos, mesmo se endividando.
Disposta a mudar essa realidade, Wendy decidiu buscar um emprego e começou a trabalhar em uma rede de fast food nos fins de semana. O dinheiro que ganhava ficava com o pai, com exceção das gorjetas, que ela guardava como uma poupança.
Mais tarde, Wendy decidiu fazer faculdade de ciência contábeis e, hoje, dedica seu tempo para multiplicar o conhecimento sobre educação financeira com pessoas de todas as idades. Em 2021, conquistou o Prêmio Educação Financeira Transforma, promovido pelo Instituto XP, na categoria de pesquisadores.
Nesta entrevista exclusiva para o TINO Econômico, ela conversou com Sophie S., de 16 anos, aluna do 2º ano do ensino médio do Colégio Friburgo e integrante do Clube TINO, sobre a importância de o jovem entender de finanças.
Muitos jovens pensam que educação financeira é fazer investimento. Então queria entender o que é esse conceito.
Quando vou falar de educação financeira, a primeira coisa que eu peço é que as pessoas coloquem no papel o que gostariam de estar fazendo ou ter daqui a um ano, daqui a cinco anos e daqui a dez anos. Se os desejos no papel envolvem dinheiro, eu as convido a pensar sobre como podem atingir esse objetivo e mostro quão importante é fazer um planejamento. Respondendo sua pergunta, isso mostra que educação financeira é saber aproveitar e usar os recursos da melhor forma. Seja qual for o gasto, o fundamental é realmente aproveitá-lo. Se for pagar a academia, seja assíduo, do contrário desrespeitará o próprio dinheiro. Educação financeira é muito mais do que saber onde colocar a renda.
Por onde começar?
Inicie listando os desejos e sonhos, porque quando tu olhas o que queres no fim do ano que vem, começas a te organizar agora. Dependendo da condição financeira, isso tem que ser feito com mais ou menos antecedência. Então, quando isso é definido, é mais fácil manter a disciplina. Tenho muitos alunos na faculdade que fazem isso. Eles sabem que para ter um escritório daqui a cinco anos, terão que começar a destinar os recursos hoje, juntando de pouquinho em pouquinho, até chegar lá. Aí, quando surge a promoção da blusinha, eles não vão cair na armadilha de comprar sem precisar, porque têm um objetivo maior, seja o escritório, a viagem ou o curso. Não quer dizer que vão renunciar ao lazer, e sim que terão disciplina para saber quando dá e quando não dá para gastar, sem antecipar o sonho.
O que é antecipar o sonho?
É gastar mais do que tem ou se endividar para atender um desejo sem planejamento. A maioria dos brasileiros, 80%, está endividada. Desse percentual, cerca de 35% é inadimplente, ou seja, está com dívidas atrasadas.
Qual o melhor modo de gerir os recursos financeiros?
Eu costumo sugerir o método 50 + 30 + 20. Nele, a pessoa destina 50% da renda aos gastos fixos, que podem ser contas da casa, internet ou streaming; 30% vai para gastos variáveis, ou seja, aqui entram a compra da blusinha, o ingresso para o show ou a balada com os amigos; e 20% é destinada a uma reserva financeira. Não dá para sair de casa, financiar apartamento e assumir prestação de carro de uma vez só. Eu sou muito do pagar à vista: junto o valor total do bem antes de comprar. Também não dá para o dinheiro ficar trancado. Tem pais que dizem que o filho não quer gastar nada, só quer juntar, juntar, juntar. Isso pode virar doença.
Quais são os erros que os mais jovens cometem?
É começar a trabalhar e gastar tudo que ganha, sem atrelar essa renda a um sonho, um propósito. Se tu vais ganhar 500 reais por mês, quanto desse valor vais guardar? Hoje temos uma cultura líquida demais. As pessoas querem tudo muito no imediato, a liquidez. A gente tem que ter certa prudência, não tem por que querer ter tudo. Não é porque o outro tem que eu tenho que ter também.
Onde as pessoas de famílias mais fechadas sobre finanças podem buscar esse conhecimento?
Eu vim de uma situação assim. Meu pai não abria as contas. Eu quase não entrei na universidade, porque, na hora que fui pegar o diploma do ensino médio, a escola não queria liberar porque tinha mensalidades em aberto. Lembro como se fosse ontem, e eu tenho 49 anos. Meu pai achava que tinha que garantir o sustento da família sozinho e não dividia o problema. Fico muito feliz por tê-lo ajudado a pagar as dívidas antes de morrer. Um caminho para jovens em situação similar é buscar informação como a que o TINO Econômico oferece. Eu adoro este nome, porque o jovem precisa ter esse tino para a educação financeira.