Filho de brasileiros, Alvaro Schocair nasceu no Canadá, mas seu coração é do Brasil. Ainda na faculdade, ele fundou o primeiro negócio, ChemHunter, marketplace para comercialização de produtos químicos que foi vendido a uma empresa maior quando Schocair tinha apenas 21 anos.
“Naquele dia, eu descobri que no empreendedorismo você só precisa acertar uma vez para conseguir todo o dinheiro que sempre quis, todo o reconhecimento da sociedade que sempre buscou e ter um sentimento de autorrealização muito grande”, diz.
Schocair seguiu empreendendo com uma gestora de recursos financeiros até que, em 2018, conheceu uma instituição chamada Babson College, em Boston, que se propõe a formar empreendedores.
“Voltei com a certeza de que o Brasil merecia ter uma escola que forma um dono de empresa, e não só um executivo. Não tem nada de errado em ser executivo, pelo contrário, mas algumas pessoas querem a chance de ter o próprio negócio.” Foi assim que nasceu a Link School, em São Paulo.
Schocair falou sobre a escola e empreendedorismo com Luisa D., de 15 anos, estudante da Ransom Everglades School, colégio de ensino médio de Miami, nos EUA.
Quais são os primeiros passos para transformar uma ideia em realidade?
A forma mais comum de empreendedorismo é desenvolver um produto ou um serviço que você acha que vai ser bom para as pessoas ou para a sociedade. Normalmente essas ideias vêm de coisas que gostamos muito de fazer, que fazemos muito bem ou que resolvem problemas. Uma segunda forma é observar o mundo e tentar encontrar uma oportunidade de negócio num setor. Se uma pessoa gosta muito de futebol americano e sabe que esse mercado está crescendo aqui no Brasil, ela pode tentar desenvolver um produto ou serviço dentro desse mercado. E a terceira forma, que é a mais comum para empreendedores mais jovens, é o modelo de audiência, no qual você constrói uma audiência na internet sobre um assunto qualquer e forma seguidores, pessoas que te acompanham. A partir de um determinado momento, você percebe que aquela audiência tem necessidades, tem vontades, tem desejos, tem curiosidades, tem dúvidas a respeito daquele tema. E a partir daí, você entrega um produto. É o que fazem Kendall Jenner, Boca Rosa, Virgínia e outras influencers.
As redes sociais mudaram muito o mundo do empreendedorismo?
Mudaram muito por conta da atenção das pessoas. Antigamente, numa época que você nem era nascida, as pessoas destinavam a atenção delas para a televisão, para o rádio, às vezes até para um outdoor, para os livros. Só que naquela época, para conseguir falar de um produto ou serviço, o empresário tinha que contratar uma inserção de comercial no rádio, na TV ou em um outdoor.
Hoje não é mais assim. Todo mundo consegue produzir conteúdo por meio do TikTok, YouTube, Instagram. Você consegue ser ouvido por alguém que queira gastar o seu tempo com aquilo que você faz.
Então, o jogo mudou por completo. Isso faz com que pessoas que não existiam até tempos atrás, mercadologicamente falando, tenham uma força muito grande e coloca uma condição muito difícil de disputa para os grandes anunciantes, como bancos, refrigerantes e cervejas. Antes eles só precisavam fazer um anúncio com um famoso. Hoje não funciona mais, porque as pessoas mais jovens não assistem à TV. Eu tenho dois filhos, de 18 e 15 anos. Eles não veem TV e não ouvem rádio, em compensação, passam de 5 a 6 horas de frente para o celular. Então o jogo do empreendedorismo mudou por completo.
E quais são os maiores desafios que os empreendedores enfrentam ao iniciar o seu primeiro negócio?
O primeiro deles é acreditar que pode dar certo. Nós aqui no Brasil temos uma educação voltada muito para a carreira executiva. Os jovens são quase que catequizados a trabalhar para alguém, seja para o governo ou empresas. Então, o primeiro desafio é acreditar que é possível transformar algo que a gente gosta muito, algo que a gente é bom, em uma empresa. O segundo é encontrar um produto ou um serviço para desenvolver, o que também não é fácil, porque a sensação que dá quando a gente olha em volta é que tudo já foi inventado. E na verdade não é assim, às vezes o empreendedorismo vem de uma inovação, vem de um simples produto ou serviço aprimorado. O Instagram não foi a primeira rede social. O Google não foi o primeiro buscador. O Uber não foi o primeiro aplicativo de táxi. Eles são aprimoramentos de outros serviços que já existiram. Também é um desafio ligar o radar para isso.
E qual qualidade mais importante que um bom empreendedor deve ter?
Posso falar duas? A primeira delas é o otimismo. A grande maioria de pessoas de sucesso que eu conheço são pessoas otimistas. Elas não perdem muito tempo reclamando da vida. A segunda é persistência. O empreendedor é aquele que trabalha mais que os outros, persiste na sua ideia, busca os clientes gastando tempo, espaço e dedicação para isso.
Como melhorar a educação dos alunos do ensino médio em relação ao empreendedorismo?
O Brasil tem como portão final do ensino médio o vestibular, no qual o jovem vai ter que fazer uma prova de matemática, de física, de química, de literatura; vai ter que escrever uma redação e ali vão medir o quão bom ele é para ser aceito ou não numa faculdade. Os atributos de um bom empreendedor, como ter flexibilidade, um olhar para a criação, liderança e boa comunicação não contam. Para que a gente forme bons empreendedores, a gente tem que voltar a ter matérias que desenvolvam o ser humano e não só a capacidade técnica. Eu não estou dizendo que matemática não é importante, que português não é importante, que física não é importante. São muito importantes, mas não pode ser só isso. A gente precisa começar a olhar os nossos jovens de uma forma mais completa, com atributos que a vida real exige.
Então, aprender educação financeira vai ser muito importante para esse jovem?
Muito importante. Quanto mais conhecimento de educação financeira o estudante tiver, mais fácil será ele pensar um negócio.
Falando sobre a Link, qual é a sua visão para o impacto que ela causará?
A primeira coisa que tentamos colocar aqui na Link, antes de formar um empreendedor, um homem ou uma mulher de negócios, é formar bons seres humanos. Existem valores muito importantes dentro da Link, como respeito, responsabilidade, coragem e simplicidade. São valores que mesmo depois de formadas, as pessoas seguirão com eles. Isso por si só já constrói um mundo melhor.
Tem algum exemplo que pode contar?
Tem uma aluna nossa de Natal, do Rio Grande do Norte, chamada Karen, que estava extremamente angustiada com a dificuldade das mulheres para fazerem xixi em grandes eventos como shows ou carnaval. Ela desenvolveu um condutor urinário feminino pra que a mulher possa fazer xixi de pé, o e.Pipi, e está vendendo muito. Esse é o caso de uma menina, uma empresa. Hoje a Link tem 750 alunos e 84 empresas criadas, que estão empregando pessoas, vendendo seus produtos e mudando a sociedade.
E como tem sido a receptividade dos alunos?
A nossa relação candidato/vaga foi 7 para 1 no vestibular do fim do ano. É assustador o que a gente vê de pessoas querendo trilhar esse caminho de empreendedorismo, principalmente nessa camada mais jovem da população. O caminho natural é as pessoas nem se questionarem. Quando veem, elas estão trabalhando para uma multinacional. Passa um ano, dois, elas se casam, têm filhos e fica mais difícil assumir um risco. E quando se dão conta, passaram uma vida vivendo o sonho de outra pessoa e não o próprio sonho. Essa é a grande diferença que a Link proporciona.