No dia 19 de junho, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central do Brasil (BC), optou por manter a Taxa Selic em 10,5% ao ano. A decisão, considerada técnica pelos analistas, era muito esperada pelo mercado financeiro, depois de representantes do governo criticarem o BC por não baixar a taxa básica de juro.
“Nós só temos uma coisa no Brasil desajustada neste instante: o comportamento do Banco Central. Essa é uma coisa desajustada. Um presidente do Banco Central que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar do que ajudar o país. Porque não tem explicação a taxa de juros do jeito que está”, disse o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista à rádio CBN, na véspera de sair o resultado da reunião do Copom.
Apesar das críticas do governo, o Copom decidiu de forma unânime manter a Selic no patamar de 10,5%. O fato de a decisão ter sido unânime agradou o mercado financeiro, que encarou o fato como um sinal de que a decisão foi técnica, e não política.
Mas o que explica essa divergência tão grande de opiniões em relação à queda dos juros? Para entender o cenário, o TINO Econômico conversou com José Carlos de Souza Filho, professor da FIA Business School.
O que acontece com o sobe e desce da Selic
Para entender o porquê das decisões, é importante saber sobre a influência que a taxa de juro tem no dia a dia das pessoas.
Quando o juro está alto, fica mais caro fazer compras a prazo, porque o juro embutido nas prestações fica maior. Com isso, pessoas e empresas tendem a comprar menos. Se o consumo diminui, as empresas têm menos estímulo para aumentar a produção e gerar mais empregos.
Quando o juro está baixo, o cenário fica mais convidativo para o consumo. O efeito colateral disso é que, se as pessoas e empresas compram mais, os preços podem subir, gerando inflação. E quem mais sofre com isso são os mais pobres.
O papel do Banco Central é justamente fazer o controle da inflação, e a principal ferramenta que a entidade tem para isso é a Taxa Selic.
Governo quer baixar, mas BC decidiu manter
Quando o presidente Lula vai a público pedindo uma queda no juro, sua preocupação maior é a geração de empregos e o crescimento da economia. “O governo entende que estimular o investimento produtivo faz as empresas empregarem mais, isso aumenta a renda, consequentemente aumenta o consumo, fazendo a situação geral melhorar”, afirma José Carlos de Souza Filho.
Do outro lado, quando o Copom decide manter a taxa, sua visão é de que há uma pressão sobre os preços que pode impactar a inflação. “O BC está muito preocupado exatamente com a pressão inflacionária. Se houver muito estímulo ao crescimento e as empresas não tiverem capacidade para atender essa demanda, os preços sobem.”
O Copom tem ainda outra preocupação: o cenário externo, principalmente a taxa de juro nos Estados Unidos, que permanece alta, em torno de 5%. Como o risco de investir no Brasil é maior, se os juros aqui e lá estiverem no mesmo patamar, os investidores vão preferir colocar o dinheiro lá, onde o risco é menor. “Se o juro está em 5% lá, não tem como o juro no Brasil ser menor do que 10%”, diz o professor da FIA.
Outro ponto de atenção são as contas do governo, que estão no vermelho. O governo tem gastado mais do que arrecada, e a solução para essa questão é complexa. Tentar equilibrar as contas aumentando a entrada de mais dinheiro implica em subir impostos. Cortar as despesas pode colocar em risco o orçamento direcionado a serviços para a população, como de saúde, educação e segurança.
Fonte: CBN.