A educação financeira é um hábito

A jornalista e influencer Luiza Dalmazo ensina que mais do que fazer contas ou economizar, administrar bem o dinheiro tem a ver com nosso comportamento e nossas emoções
5 de setembro de 2023 em Edições Impressas, Entrevista

Formada em jornalismo, Luiza Dalmazo sempre atuou na área de economia e negócios, até que decidiu mudar o rumo da carreira e fez faculdade de pedagogia para se tornar professora de crianças pequenas. A vida de Luiza deu uma nova guinada quando ela se mudou de São Paulo para Curitiba, no Paraná.

Longe do ambiente escolar e descontente com os valores que recebia fazendo reportagens como freelancer, a jornalista começou a pensar o que poderia fazer — foi quando percebeu a necessidade da educação financeira. “O dinheiro está ficando cada vez mais digital. Antes, usávamos a cédula de papel, depois, cheque, em seguida veio o cartão e, agora, você pode só encostar o celular ou fazer um Pix. Tudo transformou a necessidade de educação financeira”, diz. Hoje, as redes sociais de Luiza somam mais de 26 mil seguidores e compartilham ensinamentos para crianças, jovens e adolescentes lidarem melhor com o próprio dinheiro.

Nesta entrevista ao TINO Econômico, Luiza respondeu às perguntas de Alma C., aluna do 2º ano do ensino médio. Confira como foi a conversa.

Por que há poucas pessoas que falam sobre educação financeira, especialmente para crianças?

As pessoas acham que falar de educação financeira é abordar apenas dinheiro ou investimentos. Não é isso. Educação financeira se trata de comportamento, que são escolhas que a gente faz. E podemos falar disso em qualquer idade. Porque, com 3 anos, as crianças já dizem “compra pra mim?” e já têm condições de diferenciar o que é desejo do que é necessidade.

Qual é o significado de finanças?

Finanças é a maneira como a gente lida com os recursos. Muitas vezes, as pessoas acham que o certo é não gastar, é só economizar, economizar, economizar. E também não é isso, porque o dinheiro é feito para usar. O que precisamos é aprender a gastar bem.

Quais outros modos de usar o dinheiro, além de comprar?

Podemos utilizar o dinheiro para ele render ainda mais dinheiro, e também é possível usar dinheiro para ajudar. Compartilhar e doar também fazem um bem danado para a gente.

Qual seria uma dica para uma pessoa da minha idade não cair nas tentações de compra das redes sociais?

Lembrar que o valor maior está dentro dela, e não no que ela tem. Isso é muito difícil, especialmente entre adolescentes, que confundem ser aceito no grupo com ter o que o outro tem. Então, a minha dica é reforçar sempre a ideia de que o seu valor está em quem você é, nas coisas que você faz, no que você pensa.

Nos seus vídeos você fala muito sobre independência financeira. Qual seria o significado dessa expressão?

A independência financeira é alcançada quando o dinheiro que temos guardado e investido gera um rendimento mensal sufi ciente para pagar todas as nossas despesas. Uma pessoa que ganha 50 mil, mas não tem nada guardado e ainda tem despesas de 48 mil com casa na praia, carrão, moradia e viagem não pode parar de trabalhar no mês que vem. Já alguém que tem um dinheiro investido que rende 5 mil reais ao mês e gasta 5 mil reais mensais pode um dia olhar para o chefe e falar “tchau, não quero mais trabalhar aqui”. Ela tem liberdade de fazer escolhas, porque não depende apenas do dinheiro do trabalho para se sustentar.

Qual seria um modo simples de começar a lidar com o conceito de finanças para um jovem?

Se for alguém que já tem acesso a algum dinheiro — vamos supor que ganhe uma mesada ou um dinheirinho dos avós — minha sugestão número um é começar a organizar esse dinheiro. Separe uma quantia que vai gastar agora, outra para algo que queira muito, seja um celular, seja um tênis. E um terceiro valor para uma etapa mais distante ainda, como um intercâmbio, apartamento ou carro. E sugiro também reservar uma quarta quantia para doação.

Você acha que os problemas econômicos são relacionados a não ter conhecimento sobre finanças pessoais?

Eu tenho convicção de que sim. A pessoa que decide parcelar uma televisão em 24 vezes porque a parcela cabe no salário esquece que imprevistos podem acontecer e é preciso estar preparada. Se ela perde o emprego e deixa de ter condição de pagar, acumula uma dívida. Tem também uma questão emocional envolvida. Se as pessoas estudassem mais do que estudam matemática, não melhorariam quase nada sua situação financeira, porque não é uma questão de conta, é muito mais comportamental. Por isso o conhecimento é tão importante. As pessoas preferem falar de morte, de religião, do que de dinheiro. Por essa razão, quando precisam olhar para as finanças e investir o próprio dinheiro, não conseguem, porque têm medo.

Se alguém da minha idade só agora quer começar a aprender sobre educação financeira, é muito tarde?

De jeito nenhum. A educação financeira é um hábito. Do mesmo modo como podemos alterar os hábitos alimentares em qualquer idade, podemos mudar o jeito como usamos o nosso dinheiro. Sempre é tempo para mudar.

 Menina com celular. Foto criada por diana.grytsku - br.freepik.com

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