Os economistas do mundo todo estão preocupados com o… clima. Depois de quatro anos sem aparecer, o fenômeno meteorológico conhecido como El Niño está de volta — e com força. O El Niño faz a temperatura subir e provoca fortes chuvas e secas fora de época, o que ameaça todo o ciclo de produção de alimentos e energia, afetando o preço de mercadorias e serviços. De olho nas chuvas e nos termômetros, o receio dos economistas é, na verdade, com a inflação e a recessão econômica.
De acordo com a Bloomberg, empresa especializada em análises econômicas, da última vez que o El Niño foi registrado, o preço das chamadas commodities (que são produtos não industrializados, usados como matéria-prima, e que têm comércio global, como milho, soja, trigo, cana-de-açúcar etc.) subiu 3,9% em todo o mundo, provocando a redução do crescimento econômico de países como Brasil e Índia, que dependem muito da comercialização desse gênero de produto. O El Niño deste ano tem potencial de causar prejuízos de 3 trilhões de dólares, que se estenderão até 2029, na economia global, segundo cientistas que estudam os efeitos climáticos.
No Brasil, o El Niño é sentido no inverno e provoca temporais na Região Sul e em parte da Centro-Oeste e da Sudeste. Na semana passada, o Rio Grande do Sul já sofreu com um tornado — uma forte tempestade — que além de prejudicar as lavouras, afetou milhares de pessoas. A expectativa dos produtores sulistas é de colheita mais lenta de cana-de-açúcar, milho e soja, os principais produtos comercializados.
Mais ao norte do país, na região amazônica, o risco climático é de tempo seco, o que pode provocar queimadas e incêndios que, além das plantações, prejudicam as criações de gado e (com os níveis de água mais baixos nos rios e represas) o fornecimento de energia elétrica.
O impacto do El Niño na produção de alimentos e energia tem como principal consequência a inflação. A tendência nesses casos é faltar matéria-prima para os produtos que vão para as prateleiras dos mercados, por exemplo, ou nas tarifas da conta de luz. A inflação alta, por sua vez, inibe o consumo, o que gera o risco de desaceleração da economia. Ainda há um agravante para a economia brasileira: as perdas no comércio internacional, já que o país é grande exportador das commodities afetadas.
Especialmente este ano, as preocupações são ainda maiores, já que o Brasil e outros países do mundo ainda se recuperam das consequências econômicas provocadas pela pandemia da covid-19 e pela guerra na Ucrânia.