Desde o dia 9 de fevereiro, o setor musical coreano passa por grandes turbulências, segundo seus fãs. Isso porque, na data, o conglomerado musical Hybe Labels, gravadora de um dos grupos de maior sucesso mundial, o BTS, comunicou uma possível aquisição de 14,8% das ações da rival, SM Entertainment, o que a tornaria a maior acionista da principal concorrente.
A SM, que está listada na bolsa de valores sul-coreana, possui diversos acionistas que se preocuparam com a movimentação. A compra das ações foi concluída no dia 22 de fevereiro, quando a Hybe negociou diretamente com o fundador e ex-produtor executivo da SM, Soo Man Lee, acionista majoritário até então.
Nesse mesmo dia, a Hybe anunciou o interesse na aquisição de mais ações da empresa coreana, que deve ser realizada por meio de uma oferta pública de ações. Segundo o mercado musical coreano, o objetivo da Hybe é concentrar 40% das ações sob seu comando, conquistando assim plenos poderes nas decisões da empresa rival.
Aquisição hostil
A aquisição não preocupa apenas o mercado e os fãs, que temem que a movimentação prejudique seus artistas favoritos, como também os funcionários da SM, empresa que deve ser adquirida.
Em um longo vídeo divulgado no SM Town, canal oficial da SM Entertainment, no YouTube, Cheoul Hyuk Jang, CFO da companhia, conta a percepção e os problemas que a empresa prevê com a possível aquisição.
Em uma pesquisa realizada internamente com toda a base de funcionários, 85% se posicionaram contra a chegada da rival, prevendo falta de liberdade e problemas com a mudança de governança e do funcionamento da empresa.
Cheoul destaca que a SM, hoje segunda maior empresa do mercado coreano, tinha o sonho de se tornar a número um. Mas, com a aquisição, esse sonho se tornaria impossível. A gravadora planejava também implantar uma nova era de entretenimento aos artistas e fãs, na chamada SM 3.0, que possivelmente não irá acontecer se a mudança se concretizar.
Segundo a agência de notícias Yonhap News, em comunicado interno, Park Ji-won, CEO da Hybe, afirmou que a história da gravadora SM será respeitada, assim como sua independência. E que a presença no Japão e na China pode ajudar a expandir o portfólio musical da Hybe, levando o gênero musical K-pop a todo o mundo.
Apesar da promessa, o CFO da SM afirma que essa é uma aquisição hostil, pois o conselho da empresa não foi consultado, e por isso não aprova a compra. “Apesar das promessas, a Hybe não apresentou um plano de independência como prometido durante toda a negociação”, conta ele.
Cerca de 422,8 bilhões de wons (aproximadamente R$ 1,7 bilhão) serão injetados no negócio. Mesmo assim, a empresa teme a dificuldade em tomar decisões que priorizem também os 60% de acionistas minoritários restantes.
Juridicamente, ele aponta que um processo desse porte deve passar por uma auditoria da Comissão do Comércio Justo, agência governamental da Coreia do Sul, até o fim da oferta pública, no dia 6 de março, e a divulgação do relatório de consolidação corporativa, no dia 5 de abril, 30 dias após a efetivação da compra.
Mais nomes na disputa
Não é apenas a Hybe que está de olho nas ações da SM, a gigante de tecnologia da Asia, Kakao Entertainment, que é a segunda maior acionista da gravadora, luta pelo direito do metaverso e da distribuição de músicas da SM.
No vídeo já mencionado, a SM, ao lado da Kakao Entertainment, comentou sobre a parceria entre as empresas.
Segundo elas, essa união significa o encontro entre os melhores conteúdos globais e a melhor plataforma global, em uma relação de parceria estratégica igualitária e mútua que pode gerar sinergia e criar um ciclo virtuoso. A SM também explica: “Este não é um encontro entre conteúdos e conteúdos, e sim um encontro entre conteúdos e plataforma. Ele manterá a diversidade da indústria do entretenimento enquanto fortalece o desempenho comercial da SM e da Kakao”.
Até o momento, a Kakao não se pronunciou sobre a aquisição de mais ações da empresa.
Qual é o problema do monopólio?
Diante desse cenário, a principal preocupação do mercado e da SM está no possível monopólio do setor.
Em vídeo, Cheoul aponta que, se a Hybe adquirir 40% da SM, cerca de 66% da receita total do mercado estaria concentrada ali. Assim como no terceiro trimestre deste ano, 70% do lucro do setor ficaria apenas com as empresas.
O mercado aponta ainda que os fãs serão prejudicados com ingressos mais caros, já que haverá baixa concorrência, uma vez que mais de 60% dos maiores artistas do segmento estariam em uma só empresa.
Além dos problemas do segmento, as ações das companhias podem ser afetadas. Especialistas preveem queda nos próximos dias, em virtude da insegurança da transação e da falta de acordo entre as empresas.
Caso a oferta seja recusada, com a alegação de monopólio, um grande número de ações da SM estará disponível no mercado, o que deve diminuir seu valor, segundo o CFO.
O mercado K-pop
A Hybe é um conglomerado fundado, em 2005, pelo produtor Bang Sihyuk. Em 2020, a empresa abriu capital na bolsa de valores sul-coreana e, desde então, tem os integrantes da banda BTS, o maior sucesso do seu portfólio, como investidores da organização.
Desse modo, Suga, Jungkook, V e Jimin somam cerca de 13,3 bilhões de wons em ações. J-Hope tem o equivalente a 12,2 bilhões de wons. E, por fim, RM e Jin possuem participações equivalentes a 11,3 bilhões e 10,2 bilhões de wons.
Para manter o sucesso global do grupo BTS, a Hybe vem adquirindo gravadoras locais e no exterior. Em 2021, a empresa comprou a Ithaca Holdings, que gerencia nomes como Justin Bieber e Ariana Grande.
Do outro lado, a SM Entertainment nasceu em 1996, idealizada por Lee Soo Man, e foi a agência responsável pelo grupo H.O.T., considerado o primeiro conjunto musical do que hoje é conhecido como K-pop. Desde então, a SM lançou diversos sucesso, como Super Junior, Girls’ Generation, EXO, NCT, Red Velvet e aespa.
Atualmente, o K-pop concentra mais de 11 milhões de ouvintes mensais no Brasil, segundo a plataforma de streaming Spotify, e cerca de 8 bilhões no mundo. O setor promete muitas novidades em música, bandas – e, agora, na bolsa de valores.