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O projeto que multiplica sonhos ensinando educação financeira

Evandro Mello se inspirou na própria realidade para mudar tantas outras por meio da educação financeira
6 de fevereiro de 2023 em Nacional
Evandro e os alunos da Escola Estadual Professor Simão Mathias

Evandro tem 30 anos, mas foi aos 24 que mudou a própria vida e, desde então, muitas outras. O jovem começou a pesquisar sobre o mercado financeiro durante o ensino fundamental, quando reparou a reação de indignação de familiares ao assistir ao noticiário econômico na televisão. Para entender o motivo de tanta inquietação, decidiu estudar o assunto.

Em 2017, quando ingressou na faculdade de administração de empresas, percebeu que os colegas de turma eram bem preparados academicamente, mas sob o viés financeiro, era o oposto. Grande parte não tinha se planejado para estar na faculdade, muitas vezes não tinha dinheiro para comprar uma apostila ou um livro. Em casos mais extremos, alguns amigos não retornaram das férias do primeiro semestre e, ao questionar, Evandro descobriu que o motivo era o mesmo. Ali já existia o desejo de ajudá-los.

Mas foi dando uma palestra para alunos de uma escola pública que Evandro decidiu dar o primeiro passo para tentar mudar a educação financeira no país. Ao terminar a apresentação, uma aluna o questionou: “Se esse tema é tão importante, por que não aprendemos no ensino médio?”.

“Essa pergunta me fez voltar para casa com a cabeça cheia. Como eu poderia mudar a realidade desses jovens, que são como eu fui?”, conta ele.

Naquela madrugada, nasceu a primeira ideia da Multiplicando Sonhos, uma instituição sem fins lucrativos que oferece aulas gratuitas de educação financeira para jovens do 3º ano do ensino médio de escolas públicas do período noturno. Público que, na maioria, já trabalha e colabora com a renda familiar.

Em dois dias o projeto estava pronto para ser apresentado. Os primeiros ouvintes foram amigos de Evandro do mercado financeiro. Como já havia estagiado nessa área, ele conhecia muitos profissionais do segmento. Na primeira apresentação, recrutou 84 voluntários. 

Era o momento de provar que o negócio poderia funcionar, por isso, com a ajuda do pai, suas reservas feitas após empreender uma assessoria de eventos corporativos, a renda que conseguiu vendendo chinelos na universidade e o apoio financeiro de alguns voluntários, Evandro tirou o negócio do papel.  

A princípio, fez uma imersão para entender sobre empreendedorismo social. Depois de muitos cursos e mentorias, focou na educação financeira. Viajou por 52 cidades, em 17 estados do Brasil, para conversar com órgãos e instituições financeiras, além de centenas de diretores pedagógicos, professores e estudantes para entender como o tema era tratado nas diferentes localidades.  

Evandro voltou cheio de ideias e, em uma folha de guardanapo, desenhou com a especialista internacional em educação financeira Cássia D’Aquino a dinâmica das aulas do projeto.

A fase piloto foi implantada na Escola Estadual Dom Pedro I, em São Miguel Paulista, em que Evandro se formou. Só na primeira turma, mais de 300 jovens foram impactados diretamente, sem contar familiares e professores. Hoje, mais de 200 escolas paulistanas desejam receber as aulas do projeto, além de outras mil espalhadas pelo Brasil. 

O projeto é composto por oito aulas com duração de 1h30 cada, uma vez por semana, que abordam temas sobre o mercado financeiro, empreendedorismo e gestão. Todos os mais de 130 voluntários foram treinados e capacitados para assumir a sala de aula com os alunos. Em São Paulo, o conteúdo é apresentado presencialmente, durante o horário escolar. Nas demais localidades, as aulas são dadas por videochamada ao vivo, com a mesma recorrência. 

Até 2030, a Multiplicando espera chegar a todas as capitais do Brasil, levando educação financeira de qualidade para os jovens. Evandro reforça que, além de educar, tem como objetivo abrir caminho para que mais projetos como esse apareçam e mudem a realidade dos brasileiros. 

“Melhor do que chegar ao final, é trilhar um caminho para quem virá. A educação financeira ainda está engatinhando no Brasil, nós precisamos falar sobre isso e, assim, ter consciência financeira”, finaliza. 

 Menina com celular. Foto criada por diana.grytsku - br.freepik.com

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