“A humanidade tem uma escolha: cooperar ou desaparecer. É um pacto pela solidariedade climática ou um pacto coletivo suicida” Foi com essa declaração que António Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) abriu a COP27, a Conferência do Clima realizada no balneário de Sharm el-Sheikh, no Egito, entre os dias 7 e 18 de novembro. Nesse evento, realizado todos os anos, líderes de todo o mundo se reúnem para buscar soluções para o aquecimento global.
A fala de Guterres foi um alerta necessário. Pelo Acordo de Paris, assinado em 2015, os países signatários se comprometeram a limitar o aquecimento global a 1,5ºC em relação ao período pré-industrial. No entanto, essa meta está cada vez mais distante de ser atingida. Um levantamento da Convenção-Quadro das Nações Unidas Sobre Mudanças Climáticas, com base nas metas nacionais de emissões de 193 países, mostra que o planeta deve aquecer 2,5ºC acima da média pré-industrial. Ou seja, ficaria 1ºC acima do limite acordado em Paris.
Segundo especialistas, esse aquecimento aumenta o risco de catástrofes climáticas e põe em xeque a vida na Terra como a conhecemos hoje.
Empresas bem-vindas
Apesar do clima de alerta, há resultados a comemorar. “Esta foi uma conferência em que o setor privado apareceu com muito mais força, com empresas participando consistentemente com estandes e levando representantes”, diz Alexandre Mansur, diretor de projetos do Instituto O Mundo Que Queremos.
A presença de empresas é celebrada porque hoje esse setor é o que tem mais capacidade de investimento em fundos de apoio a ações para mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Esses fundos reúnem recursos para financiar iniciativas para diminuir as emissões de carbono e adaptar as cidades para os efeitos do aquecimento global.
Jovens no pedaço
Outra novidade celebrada nesta COP27 foi a participação da sociedade civil, em especial dos jovens. Um dos dias da conferência, 10 de novembro, foi totalmente dedicado à juventude. Foi o momento que deu voz aos jovens e permitiu que eles dialogassem de igual para igual com os demais participantes do evento. Entre os jovens representantes brasileiros, uma ganhou ainda mais destaque, a indígena Txai Suruí. “Com certeza ela já é um ícone global. Sua voz foi muito ouvida na COP27”, diz Mansur.
E os resultados?
O documento final assinado pelos cerca de 200 países participantes foi considerado um bom avanço. Ele prevê a criação de um fundo de perdas e danos para ajudar nações que são “particularmente vulneráveis” aos efeitos adversos das mudanças climáticas. Isso significa que os países ricos ajudarão os mais pobres e mais suscetíveis a catástrofes naturais causadas pelo aquecimento global.
Países submersos
Um dos efeitos do aquecimento global é o aumento do nível do mar, provocado pelo derretimento das geleiras. Uma delas, a Thwaites, que fica na Antártida e é considerada uma das maiores do mundo, está desaparecendo mais rápido do que o esperado. Segundo cientistas, se for totalmente derretida, ela tem potencial de elevar o nível do mar em até 3 metros. Esse aumento pode cobrir parte significativa de muitos países. Entre as nações que correm esse risco estão Bangladesh, Maldivas, Tuvalu e Fiji.
Com nações perdendo relevante parte de seu território, em breve teremos os refugiados climáticos, pessoas que terão obrigatoriamente que se retirar do país de origem. O tema, apesar de urgente, não tem solução estabelecida.
Quem é Txai Suruí
Esta indígena, de 25 anos, tornou-se uma das lideranças mais conhecidas do Brasil por lutar contra o desmatamento na Amazônia. Ganhou destaque na COP26, em que foi a única brasileira a discursar na abertura oficial. Na COP27 ganhou ainda mais notoriedade como guardiã da floresta.
Declarações das autoridades
“A luta contra o aquecimento global é indissociável da luta contra a pobreza e a desigualdade”, Luiz Inácio Lula da Silva, presidente eleito do Brasil
“Estamos a caminho do inferno climático, com o pé no acelerador”, António Guterres, secretário-geral da ONU
“Enquanto elas [empresas de petróleo e gás] lucram, o planeta queima”, Gaston Browne, primeiro-ministro de Antígua e Barbuda
“Todos nós temos um problema de credibilidade: estamos conversando e começando a agir, mas não estamos fazendo o suficiente”, Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos e Nobel da Paz