Por Eduardo Viseu*
O aclamado filme Oppenheimer, de Christopher Nolan, trouxe à tona a narrativa histórica e pública sobre a energia nuclear. A humanidade teve seu primeiro encontro com essa forma de energia durante a Segunda Guerra Mundial, por meio das bombas atômicas.
Ao longo da história, o debate público se concentrou majoritariamente nos aspectos negativos da energia nuclear, envolvendo desastres como Chernobyl (Ucrânia), Angra (Rio de Janeiro) e o caso do césio-137 (Goiás). Apesar de controversa, a energia nuclear vem recebendo atenção, à medida que enfrentamos a crise do aquecimento global, como forma de energia que não emite Gases de Efeito Estufa (GEEs).
A pergunta que muitos podem fazer é: por que optar por energia nuclear quando temos alternativas como energia solar e eólica? A resposta é sustentada por dois argumentos principais. Primeiro, a energia nuclear é mais segura do que muitos acreditam, com uma baixa taxa histórica de mortes por kWh gerado. Segundo, o mundo não pode depender inteiramente de fontes de energia cuja produção não é completamente controlável, tornando uma fonte de energia constante necessária.
Segurança
Quando examinamos as estatísticas, a energia nuclear demonstra um perfil de segurança surpreendente. Para cada terawatt-hora (TWh) gerado — o consumo anual equivalente a 27 mil residências — 25 pessoas morreriam se a fonte fosse carvão, enquanto apenas 0,03 morreria se fosse energia nuclear.
Você deve então estar pensando como isso é possível mesmo com a existência de acidentes como o de Chernobyl. A resposta está no desenvolvimento: com a tecnologia moderna já foi provado que esses acidentes são quase impossíveis de acontecer.
A necessidade de energia de carga de base
O termo “carga de base” se refere à energia constantemente necessária para atender a demanda. Energias renováveis, como solar e eólica, são intermitentes, tornando crucial a existência de uma fonte constante e controlável de energia. Dentre as que emitem menos GEEs estão a nuclear e a hidrelétrica. Esta tem diversas desvantagens. Por mais que não emita GEEs, há uma série de danos ambientais pela criação de barragens; a usina ocupa muito mais espaço do que uma de energia nuclear; e, por fim, depende da geografia do lugar em questão.
Economia da energia nuclear
O debate sobre o futuro da matriz energética global é multifacetado e complexo, envolvendo vários tipos de fontes de energia. Enquanto o investimento em energias renováveis, como solar e eólica, tem recebido grande atenção, totalizando 2 trilhões de dólares entre 2010 e 2018, a energia nuclear muitas vezes fica em segundo plano. Isso é curioso, especialmente quando se considera que países como a França, que investem fortemente em energia nuclear, têm conseguido reduzir drasticamente as emissões de carbono. A França obtém 61% de sua energia de fontes nucleares e emite apenas 32 gramas de CO2 por kWh. Esse desempenho é notavelmente melhor quando comparado ao da Alemanha, que, apesar de ter o dobro da produção relativa de energias renováveis, dispõe de apenas 12% de energia nuclear na matriz e emite dez vezes mais CO2 por kWh do que a França.
Então, o que impede mais investimento em energia nuclear? A resposta está em uma complexa mistura de fatores econômicos, temporais e de percepção de risco. Construir uma usina nuclear é uma empreitada cara e demorada. Por exemplo, enquanto uma usina de gás natural de mil megawatts pode ser construída com cerca de um bilhão de dólares, em dois anos, uma usina nuclear de capacidade similar custaria aproximadamente 6 bilhões de dólares e levaria até seis anos para ser concluída. No entanto, a energia nuclear tem custos operacionais mais baixos no longo prazo, principalmente em relação ao custo do combustível.
De acordo com cálculos do professor David Ruzic, da Universidade de Illinois, uma usina nuclear se tornaria mais lucrativa do que uma de gás natural após 16 anos, considerando todos os custos envolvidos.
Mesmo com o potencial de lucratividade no longo prazo, o cenário atual mantém cautela em relação à energia nuclear. Vários países estão até fechando usinas nucleares já existentes, como é o caso da Alemanha. Nos Estados Unidos, a usina de Diablo Canyon, na Califórnia, uma das maiores do país, também está programada para fechar. Os altos custos de manutenção e as atualizações necessárias para cumprir os rigorosos padrões de segurança são algumas das razões por trás dessas decisões.
O Custo Nivelado de Eletricidade (LCOE), uma métrica que avalia o custo total de produção de energia durante a vida útil de uma usina, sugere que as fontes mais rentáveis atualmente são o gás natural, a energia solar e a eólica. Esse é um fator determinante para a direção dos investimentos em energia.
Entretanto, é crucial lembrar que alcançar uma matriz energética totalmente limpa e sustentável usando apenas energia solar e eólica não é viável, pela natureza intermitente dessas fontes. Assim, é imperativo que se desmistifique a energia nuclear e se considere seu papel potencialmente vital para atingir metas de sustentabilidade. Isso permitiria mais investimentos em pesquisa e desenvolvimento, tornando a energia nuclear uma opção mais segura e econômica e, consequentemente, uma alternativa viável para uma matriz energética verdadeiramente limpa e sustentável.
_______
*Sou Eduardo Viseu, tenho 18 anos e estou no terceiro ano do ensino médio. Sou apaixonado pelo estudo do clima e da produção de energia. Neste espaço, compartilho minhas opiniões sobre o assunto.